Jornal Estado de Minas

PT lava mãos, oposição ataca ao repercutir prisão do senador Delcídio do Amaral


Brasília - Apesar de contar com a solidariedade dos colegas, o líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), preso nessa quarta-feira (25) em um hotel de Brasília, começa a ficar isolado. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou que os fatos atribuídos ao parlamentar não têm relação com a legenda. Ele anunciou que o partido convocará reunião da Comissão Executiva Nacional para adotar medidas que a direção partidária julgar cabíveis. Pelo Congresso, governistas receberam com surpresa e notícia da prisão e tiveram cautela ao comentar as acusações contra o petista. Para a oposição, a detenção está intimamente ligada aos governos petistas. “Nenhuma das tratativas atribuídas ao senador têm qualquer relação com sua atividade partidária, seja como parlamentar ou como simples filiado, por isso mesmo, o PT não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade”, disse Falcão, em nota.


Entre os governistas, a principal preocupação é nos reflexos que a prisão pode ter ao atrasar votações importantes para o governo no Congresso, como a revisão da meta fiscal de 2015 – prevista para ser votada nessa quarta-feira e cancelada –, o Orçamento de 2016, a continuidade da Desvinculação das Receitas da União (DRU) e a conclusão da votação do projeto de lei de repatriação de recursos de brasileiros não declarados no exterior. Para o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), não há como desassociar os fatos relacionados a operação Lava-Jato do Planalto. “Não se montaria um esquema desse vigor se não houvesse beneplácito do governo, porque ele foi, em última instância, o grande beneficiário desse esquema”, afirmou.
O tucano também defendeu que a votação no plenário do Senado fosse aberta, acompanhasse a posição do Supremo Tribunal Federal (STF) e fosse feita com celeridade. Para Aécio, postergar a votação “transfere uma questão extremamente grave, que circunda um senador da República, para todo o Senado”.


O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), defende que a prisão do colega não interrompa o ritmo de atividades legislativas. “Os senadores estão impactados, mas entendemos que esse fato, por mais grave que seja, não deve contaminar as tarefas do Congresso ”, afirmou. “Temos temas gravíssimos da importância do país e devemos fazer com que eles continuem andando. O governo está preocupado com o ritmo da pauta e não queremos que seja paralisada por esse fato”. Costa rebateu ainda que “não há nenhum fato patrocinado pelo governo” na prisão do senador Delcídio do Amaral.


Na avaliação do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), a prisão de Delcídio é determinante devido ao papel central do petista na articulação dentro da Casa. “Isso interrompe todas as votações do dito ajuste fiscal do governo até porque o líder do PT era o principal articulador desse processo de entendimento ou de acordos produzidos para que essas matérias fossem votadas”, afirmou.
Ele destacou a votação do PL da repatriação, aprovado pela Câmara neste mês. A estimativa do governo é de arrecadação entre R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões com a medida.


Mesmo tendo admitido estar “abalado” com a prisão de Delcídio, o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), defendeu que o fato não pode inviabilizar votações determinantes, como a redução da meta fiscal de 2015. “O governo quer votar. O governo não pode, em função desse episódio, paralisar o país”, disse.

NOVO LÍDER 
Pegos de surpresa com a prisão de Delcídio, integrantes do Palácio do Planalto viveram um dia de agonia para encontrar a saída sobre como proceder em relação à troca da posição de líder no Senado e avaliar os prejuízos que o caso pode causar a votações caras no Congresso. Ministros do núcleo duro do governo e a presidente Dilma Rousseff passaram o dia em reuniões para solucionar o imbróglio criado. Em uma encruzilhada, a decisão foi a de deixar para próxima semana a indicação do novo líder da Casa. O governo buscou  afastar o fantasma do senador do Planalto, sem ter como defendê-lo. O Planalto informou que escolheria um nome entre os quatro vice-líderes do governo no Senado, Hélio José (PSD-DF), Wellington Fagundes (PR-MT), Paulo Rocha (PT-PA), e Telmário Mota (PDT-RR) para ocupar a função de Delcídio.

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