Brasília - Dois dias após ser preso pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) declarou, em depoimento à Polícia Federal, que o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró foi indicado pela presidente Dilma Rousseff, quando era ministra de Minas e Energia. Segundo Delcídio, ela o consultou em 2003, primeiro ano do governo Lula, sobre Cerveró, que havia trabalhado com Delcídio na diretoria de Gás e Petróleo da Petrobras. Segundo ele, Dilma conhecia Cerveró desde o tempo em que era secretária de Energia do Rio Grande do Sul, na gestão de Olívio Dutra. Até então, a escolha de Cerveró era atribuída a uma dobradinha entre o próprio Delcídio e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
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Delcídio também envolveu o vice-presidente, Michel Temer, alegando que ele tinha proximidade com o ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada. Questionado sobre o que seria essa relação próxima, o político disse que preferia não responder. Preso na Lava-Jato, Zelada é acusado de atuar em nome do PMDB mineiro e de fazer parte de esquemas que renderam propinas a ele e ao partido na compra do navio Vantage.
Em nota divulgada ontem, Temer alega que falou com Zelada em 2007 — no mesmo ano em que esteve com seu antecessor, Nestor Cerveró — para discutir a diretoria internacional. No entanto, afirmou que “não indicou” Zelada “nem trabalhou” para que ele se tornasse diretor da estatal. “O presidente do PMDB nega qualquer relação de proximidade com Jorge Zelada e repudia veementemente as declarações do senador Delcídio”, afirmou a assessoria do vice-presidente. O advogado de Zelada, Alexandre Lopes, afirmou que não tem como confirmar uma reunião de 2007, no entanto, atestou que a relação de seu cliente com Temer é “zero”. “Primeiro, deve ser bravata. Só Temer pode responder”, continuou Lopes.
A assessoria de imprensa do senador Delcídio do Amaral comunicou ontem, por meio de nota, que ele se encontra “abatido, porém sereno e concentrado, junto dos advogados, na formulação da sua defesa com o firme propósito de provar, o quanto antes, a sua inocência”. Em gravação de 4 de novembro feita pelo filho de Nestor Cerveró, Bernardo Cerveró, Delcídio afirma que Temer estava preocupado com Zelada, preso em Curitiba.
Temer confirmou o relato do lobista Fernando Baiano sobre outra negociação pelo cargo de diretor internacional da Petrobras. A assessoria do peemedebista afirmou que o pecuarista José Carlos Bumlai lhe telefonou e pediu um encontro com Cerveró, que, naquela altura, estava ameaçado de perder o posto. Temer recebeu o então diretor em 2007. Ele teria dito a Cerveró que não poderia ajudá-lo porque o cargo pertencia ao PMDB de Minas Gerais, comandado por Fernando Diniz, e já estava prometido a Zelada — o que de fato aconteceria depois. A única divergência do vice-presidente é que, ao contrário do que disse o lobista, ele afirma que o pecuarista não participou da conversa com Cerveró.
DELAÇÃO A informação que circulou ontem nos bastidores do Ministério Público de que Delcídio teria começado a negociar uma delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, aumentou o temor do governo, porque ressuscitou o caso da compra da refinaria de Pasadena (EUA), em 2006, que teve o aval da presidente Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil e integrante do Conselho de Administração da Petrobras. Segundo o lobista Fernando Soares, Delcídio recebeu US$ 1,5 milhão de propina pela compra da refinaria, um negócio feito pela Petrobras em 2006 que deu prejuízo de US$ 790 milhões aos cofres da estatal.
Senadores petistas já alertaram que é grande a chance de Delcídio fazer delação premiada, porque consideram remota a possibilidade de que ele consiga um habeas corpus, já que a prisão foi decidida pelo Supremo Tribunal Federal. O temor aumentou depois da nota divulgada pelo presidente do PT, Rui Falcão afirmando que o partido não deve solidariedade a ele. Com isso, Delcídio pode se sentir isolado e contar tudo o que sabe. Delcídio era frequente no Palácio do Planalto e tinha proximidade com Lula, inclusive se encontrava com ele no Instituto Lula. Era ainda interlocutor de dois alvos da Operação Lava-Jato, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, ambos presos. O senador tinha como missão monitorar os dois de perto.
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