Jornal Estado de Minas

Impeachment periga entrar na pauta do Congresso durante recesso parlamentar

 

Brasília – Com as ameaças de peemedebistas para que o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), convoque parlamentares durante o recesso de fim de ano caso o pedido de impeachment seja aceito, 2015 se transforma em um interminável ano para o meio político. Recheado de ineditismos, como a reprovação das contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e a prisão pela Polícia Federal do senador da República Delcídio do Amaral (PT-MS), em pleno exercício do mandato, 2015 vai ficar marcado na vida de políticos e da sociedade como o ano que mergulhou o país em uma verdadeira crise econômica e política. `

Na fogueira acesa no Congresso, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que responde a um processo de cassação no conselho de ética da Casa, prometeu decidir hoje sobre os sete pedidos de impeachment. O resultado, porém, deve se arrastar até pelo menos amanhã, quando Cunha espera receber ajuda de petistas na leitura do relatório de Fausto Pinato (PRB-SP) no conselho. “Cunha não vai decidir nada antes de saber se o PT vai salvar sua pele”, analisou um deputado.

Outro peemedebista descarta a possibilidade de Renan convocar parlamentares para uma sessão extraordinária em meio ao recesso de fim de ano. “Os senadores estão preocupados com outra situação, se estão investigados ou não na Lava-Jato, se Delcídio vai fazer delação premiada e não cabe decidir sobre sessão extraordinária para falar de impeachment agora”, afirmou um deputado federal.

Nas últimas semanas, até parecia que o governo tinha saído das cordas.

A sombra do impeachment estava mais distante, graças ao fato de os holofotes da corrupção terem passado a focar Eduardo Cunha, que responde a um processo no conselho e passou a ser questionado pelos próprios pares, que cobram sua renúncia. Além disso, o Planalto conseguiu manter alguns vetos estratégicos, como o que proíbe o reajuste médio de 59% para servidores do Judiciário.

Mas a semana que passou transformou a bonança em um pesadelo. Na terça-feira, a Polícia Federal prendeu o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo íntimo do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Na quarta, o estrago foi maior ainda. Agentes detiveram, em um hotel de Brasília, o senador Delcídio do Amaral, acusado de planejar uma rota de fuga para Cerveró – o mesmo que teria sido indicado por Dilma e que está preso na Polícia Federal por conta das investigações da Operação Lava-Jato. “Não há nada que esteja ruim que não possa piorar”, lamentou um interlocutor palaciano.

Apesar do discurso ufanista do governo de que “não temos nada a ver com Delcídio”, a assepsia foi imediata.

Nas palavras de um petista, o Planalto rifou Delcídio como quem se livra de um cão sarnento. “Ele foi preso às 7h e, às 8h, o Planalto já espalhava que o líder do governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE), acumularia as funções”, espantou-se um aliado de Dilma.

Mapa

A saída, apressada, é praticamente inviável. Pimentel tem na cabeça todo o mapa de votações do Congresso, como estão os projetos de interesse do governo, quem vota, como vota. Não valeria a pena bagunçar uma estrutura já montada para suprir uma lacuna em outra que está em aberto. “Em uma casa delicada na relação entre governo, PMDB e oposição, é complicado achar um nome adequado”, acrescentou um aliado do governo.

Para o vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), é ilusão negar que a crise política se agravou na semana que passou, especialmente após a prisão de Delcídio. “Mas há uma longa pauta que precisava ser votada.

Se não conseguimos resolver nossos problemas, que pelo menos pensemos no Brasil”, disse Viana.

O risco do impeachment também voltou para o radar palaciano. Apesar de acreditar que tem votos suficientes para barrar qualquer iniciativa neste sentido, o Planalto ficou incomodado com a possibilidade de Cunha ressuscitar esse assunto justamente agora. “Ficou feio ele resolver pautar isso na véspera da reunião do conselho de ética que aprovará o pedido de cassação dele. Parece chantagem”, esperneou um líder governista.

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