Dizendo-se vítima de "armação" e "armadilha" em uma "situação absurda", o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta segunda-feira, 30, que pode ter sido "plantada" a menção ao suposto pagamento de propina por parte do BTG Pactual para que fosse alterada uma Medida Provisória que beneficia bancos em liquidação.
De acordo com a Procuradoria-Geral da União (PGR), um documento colhido por investigadores da Operação Lava Jato na residência de Diogo Ferreira, chefe de gabinete do senador Delcídio Amaral (PT-MS), aponta suposto pagamento de R$ 45 milhões a Cunha para alterar medida que beneficiaria o banco de André Esteves. O banqueiro, o chefe de gabinete e o senador foram presos na semana passada.
Com papéis em mãos, Cunha concedeu entrevista coletiva no final da manhã desta segunda reafirmando que apresentou duas emendas à Medida Provisória 608/2013, editada pelo governo em março de 2013. O texto trata de créditos tributários. A primeira emenda de Cunha era um "jabuti" que tratava da obrigatoriedade do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A segunda retirava da MP artigo que tratava de benefícios envolvendo bancos em liquidação.
"Se estou provando que os meus atos são contrários ao que está sendo noticiado, obviamente que a anotação ou qualquer coisa, além de ser mentirosa, só pode ser fruto de uma armação. Tem que perguntar se, efetivamente, esse cidadão que foi apreendido, se encontrou com ele mesmo, se isso estava em poder dele porque podem ter plantado depois. Em segundo lugar, se estava em poder dele, ele que tem que justificar porque tem essa anotação e não eu", afirmou Cunha.
No documento apreendido, Diogo Ferreira teria feito um roteiro de uma das reuniões entre Delcídio e Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras que gravou as conversas entre os dois. No encontro, o senador teria dito que conversaria com ministros do Supremo Tribunal Federal para viabilizar um habeas corpus para o ex-dirigente da estatal preso em Curitiba.
No verso do papel, há o seguinte texto: "Em troca de uma emenda à medida provisória n.º 608, o BTG Pactual, proprietário da massa falida do banco Bamerindus, o qual estava interessado em utilizar os créditos fiscais de tal massa, pagou ao deputado federal Eduardo Cunha a quantia de R$ 45 milhões. Pelo BTG participaram da operação Carlos Fonseca, em conjunto com Milthon Lyra". Não há especificação se o texto em que há menção a Cunha é manuscrito ou impresso.
Cunha não quis apontar um responsável pelo que chamou de "armação" contra ele e criticou a divulgação feita pela imprensa. "Não tenho a menor dúvida que alguma armação ocorreu neste ponto. Não vou ser leviano de fazer uma acusação sem que possa comprovar", afirmou.
"É uma situação absurda. Ganha-se um contorno na mídia em que uma anotação torna-se documento e a anotação vira o suposto pagamento de propina. Essa situação é absurda. Ela sai do prumo da realidade e nem se coloca como suspeição. A manchete de todos vocês vira manchete como se houve uma denúncia de um documento", disse o presidente da Câmara.
Ele também criticou a divulgação do documento em uma noite de domingo, o que dificultou sua contestação. "Chega a ser até covarde a colocação de uma situação dessa no domingo de noite que não tenho a possibilidade sequer de poder responder", afirmou.
Eduardo Cunha negou conhecer o chefe de gabinete de Delcídio e também ter jantado com André Esteves durante o período de tramitação da Medida Provisória, mas afirmou já ter encontrado o banqueiro e outros momentos. "Não tenho condições de precisar quando encontrei", afirmou. Cunha afirmou que seu advogado chegará nesta tarde à Brasília e solicitará acesso ao documentos em que seu nome é mencionado.