Brasília - Ex-líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), preso preventivamente na quarta-feira passada após ser flagrado ema gravação tentando atrapalhar investigações da Operação Lava-Jato, começa a enfrentar um calvário particular. A Rede vai protocolar hoje, no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado, representação contra ele para ter início tramitação de processo que pode culminar na cassação do mandato. Ontem, dia em que a presidente Dilma Rousseff (PT) se disse “perplexa” com a prisão, Delcídio sofreu mais um golpe. A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) abertura de inquérito para investigá-lo. Outros dois procedimentos investigativos foram solicitados pela PGR contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e o deputado Aníbal Gomes.
Em entrevista coletiva ontem em Paris, na França, onde participa da Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, Dilma disse não temer uma possível delação de Delcídio. “Não tenho nenhum temor sobre a delação do senador Delcídio”. Ela se mostrou surpresa com o caso. “Fiquei perplexa porque jamais esperei que isso pudesse acontecer com o senador”, completou. A presidente salientou ainda que o petista foi escolhido para ser líder do governo no Senado por ser uma pessoa de bom trânsito. “O senador Delcídio era de fato uma pessoa bastante bem relacionada no Senado e, aliás, nós o escolhemos porque ele tinha relações com todos os partidos, inclusive com os da oposição. Infelizmente , nenhum de nós é insubstituível. Ele foi substituído e as questões relativas ao Congresso vão se dar normalmente”, finalizou.
No meio da tarde de ontem, pouco antes de a bancada petista do Senado se reunir, o presidente do PT, Rui Falcão, soltou outra nota bastante dura contra Delcídio. O texto, inclusive, se antecipa a qualquer julgamento e já condena o senador. “Nada disso, contudo, exime o senador do delito de usar seu cargo em benefício próprio, com prejuízos para o PT, o governo e o próprio país, sobretudo ao cogitar o suborno e a fuga de um criminoso que estaria colaborando com a Justiça”, atesta. No mesmo comunicado, a sigla avisa que, na próxima sexta-feira, a Comissão Executiva Nacional do PT discutirá quais medidas serão adotadas a respeito das violações éticas que o senador Delcídio do Amaral cometeu. Uma ala do PT defende a expulsão. Outra, pelo menos até a tramitação do processo no Conselho de Ética do Senado, uma suspensão da legenda por um tempo a ser decidido no encontro. “É inquestionável que Delcídio traiu a confiança do PT, do governo Dilma, de quem era líder do Senado, e frustrou o seu próprio eleitorado”, salienta Falcão.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) declarou que o partido vai representar no colegiado contra o senador Delcídio mesmo que outra legenda de oposição não queira assinar o documento. “Deliberamos no fim de semana e não houve resistência. Vamos fazer amanhã (hoje). Talvez o PPS assine com a gente. Quem quiser assinar a representação, não tem problema. É muito melhor”. O PSDB tem se esquivado de colocar a digital no pedido de abertura de processo contra Delcídio no Conselho de Ética.
Banqueiro
O presidente do banco de investimentos BTG Pactual, André Esteves, e o chefe de gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira, que haviam sido presos temporariamente por cinco dias na quarta-feira, tiveram ontem as prisões convertidas em preventivas. Desta maneira, não há mais prazo determinado para os dois deixarem a cadeia. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, relator na Corte de todos os processos referentes à Operação Lava-Jato, determinou a conversão após solicitação da Procuradoria-Geral da República (PGR). De acordo com Zavascki, o material coletado nas buscas e apreensões e os depoimentos colhidos no decorrer das prisões temporárias permitiram o preenchimento dos requisitos para a decretação das preventivas.