Jornal Estado de Minas

Manifesto de apoio a fazendeiro condenado na Chacina de Unaí gera polêmica


Fac-símile de trechos do manifesto distribuído aos moradores - Foto: Um manifesto de apoio ao fazendeiro Antério Mânica – condenado a 100 anos de prisão por ser  o mandante da Chacina de Unaí, na qual morreram três auditores fiscais e um motorista do Ministério do Trabalho – está circulando há uma semana no município do Noroeste de Minas. O texto tem constrangido moradores da cidade e ainda empregados da família Mânica, dono do poder político e econômico da cidade. A intimidação somente é admitida sob o manto do anonimato, mas a denúncia é de que o manifesto foi produzido pelo político e distribuído por seus partidários. Nessa quarta-feira, a presidente do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais (Sinait), Rosa Maria Campos Jorge, encaminhou ao Ministério Público Federal cópia do manifesto pedindo que sejam adotadas providências para coibir a prática e ainda divulgou nota de repúdio.


Rosa Maria considera que o manifesto é um “acinte” à memória das vítimas, à Justiça, e à sociedade como um todo. “No texto, ele se coloca como a quinta vítima da chacina, crime do qual é mandante e está condenado”, disse Rosa Maria. Ela defendeu ainda a prisão imediata de Antério Mânica, que apesar de ter sido condenado com pena máxima pelos crimes recebeu da Justiça o direito de recorrer em liberdade da sentença.

No manifesto, os apoiadores do ex-prefeito afirmam que “não admitem a condenação de Antério Mânica sem provas, ou seja, apenas por suposições não comprovadas”. O texto ataca ainda o procurador da República Hebert Reis Mesquita, um dos responsáveis pelo trabalho de acusação do fazendeiro: “As pessoas que aqui assinam, manifestam, ainda, indignação com a apresentação da nossa Unaí aos jurados. O procurador federal Hebert Reis Mesquita, lotado em Paracatu, e mesmo prestando serviços duas vezes por mês em Unaí, não mediu palavras para ridicularizar a cidade e nossa gente”.

E não fica nisso. O documento, que lista toda as teses de defesa do fazendeiro, encerra com os dizeres: “Você que acredita na inocência do Antério e para que não se faça uma quinta vítima, assine o manifesto”.

ESPONTÂNEO
Nessa quarta-feira(2), o advogado de defesa de Antério Mânica, Marcelo Leonardo, disse ter conhecimento do manifesto e que ele nasceu de uma iniciativa “espontânea da comunidade, chocada com a condenação dele a 100 anos de prisão”. “Assina quem quer”, garantiu Marcelo Leonardo. Por sua vez, o advogado e assistente de acusação, Antônio Francisco Patente – que representa as viúvas dos servidores assassinados, lembra como foi importante que o julgamento dos mandantes e executadores das mortes fosse transferido para Belo Horizonte. “Isso demonstra uma pressão sobre os moradores”, diz. Francisco Patente afirmou que ainda não tem conhecimento do manifesto, mas isso pode causar novos processos ao político, o que só complicaria sua situação.

Antério Mânica – ex-prefeito da cidade por dois mandatos (2005 a 2012) – foi condenado a 100 anos de prisão, ao lado de seu irmão, que teve a mesma pena, como mandantes das execuções. Além deles, foram condenados ainda os pistoleiros Alan Rocha Rios, a 94 anos; Erivaldo Francisco dos Reis, a 76 anos e 20 dias, e Willian Gomes Miranda, a 56 anos.
Também foi condenado o empresário Hugo Alves Pimenta, considerado o intermediário na contratação dos executores. Hugo terá que cumprir 47 anos, três meses e 27 dias de prisão, depois de ter sido beneficiado com uma redução de pena em razão de delação premiada. Sua pena inicial era de 96 anos. De acordo com Hugo Pimenta, em depoimento que prestou em agosto de 2013, durante o julgamento dos pistoleiros, a ordem de Norberto foi curta e grossa –“Tora! Tora todo mundo”. Segundo ele, para os executores e colaboradores, os irmãos Mânica teriam desembolsado meio milhão. Foram mortos os auditores fiscais Nélson José da Silva, João Batista Soares Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves e o motorista Aílton Pereira de Oliveira. Os servidores foram assassinados em janeiro de 2004, quando participavam de apuração de denúncias de trabalho escravo na região e tiveram o carro interceptado em uma estrada vicinal pelos pistoleiros.

 

 

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