Com a maior bancada na Câmara dos Deputados – com 66 parlamentares –, o PMDB será o fiel da balança no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, com o poder de influenciar de forma decisiva o resultado, seja qual for. Nos últimos tempos, nomes fortes do partido já vinham pressionando pelo desembarque da legenda do governo petista. Por outro lado, integrantes da oposição avaliam como crucial a postura do partido no caso. Entendem que, se os peemedebistas ficarem, no mínimo, divididos, o processo não tem chance de prosperar.
No Palácio do Planalto é dado como certo que a decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) de acatar o pedido de impeachment teve o aval da cúpula do partido. Nos bastidores, auxiliares próximos de Dilma avaliam que, temendo virar a bola da vez, o PMDB decidiu optar pelo impedimento de Dilma para pelo menos mudar o foco das atenções. Além do próprio Cunha, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL) e até mesmo o vice-presidente Michel Temer têm telhado de vidro por terem sido citados em investigações da Polícia Federal e podem estar tentando salvar a própria pele.
Temer teria recebido sinais ao longo do dia apontando sobre a decisão de Eduardo Cunha, mas, oficialmente, o vice-presidente tomou conhecimento no momento do anúncio do presidente da Câmara. No caso de haver no país um processo de impeachment, Michel Temer assumiria a presidência do país.
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O vice-presidente sempre se colocou contrário ao impeachment, mas, em pelo menos duas ocasiões, chegou a declarar que é preciso que “alguém tenha a capacidade de unir o país”, apontando a gravidade da crise política e econômica. A frase provocou mal-estar dentro do PT. Se Temer decidir embarcar na articulação a favor do impeachment, a chance de sucesso é quase certa. A esperar o próximo passo.
Seis mandatos
Paulista de Tietê, cidade a 120 quilômetros de São Paulo, aos 75 anos Michel Temer é considerado um dos homens mais influentes do país. Ele é formado em direito pela Universidade de São Paulo (USP), é doutor pela Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP) e tem livros publicados sobre o direito constitucional.
Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, de quem foi uma espécie de fiel escudeiro e um dos maiores defensores da reeleição, Michel Temer foi presidente da Câmara dos Deputados por três vezes. No cargo, assumiu a Presidência da República, interinamente, em janeiro de 1998 e em junho de 1999. Mais tarde, em 2004, disputou a Prefeitura de São Paulo, como vice na chapa encabeçada por Luiza Erundina (PSB), mas não venceu o pleito.
O vice-presidente teve seu nome associado a denúncias na Operação Caixa de Pandora, que investigou o mensalão do DEM, esquema no Distrito Federal. O político negou qualquer envolvimento no escândalo. Voltou a ser citado por delatores da Operação Lava-Jato de ser um dos contatos do PMDB com o esquema de propina na Petrobras. (Com agências)
Pelo mundo
A abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff ganhou espaço nos sites dos principais jornais do mundo.O espanhol El País colocou o assunto na manchete: “O Parlamento brasileiro abre o processo de destituição de Rousseff”, dizia o título. O americano Washington Post e o britânico “The Guardian” também repercutiram o tema. O espanhol El País chamou Eduardo Cunha de “ultraconservador” e afirmou que “seu descrédito é completo”.