Brasília - Dois dias depois de chamar os ministros do PMDB para medir a fidelidade da legenda diante da ameaça de impeachment, a presidente Dilma Rousseff descobriu a dura realidade dos riscos de contar com o maior partido da coalizão. O ministro da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha, pediu demissão do cargo e embarcou para Porto Alegre. O temor no Planalto é que outros integrantes do partido no primeiro escalão tomem a mesma direção e façam ruir a frágil sustentabilidade política do governo. O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, é um deles. O ex-deputado não se sente tão confortável no cargo e tem reclamado sobre contingenciamentos na pasta, apesar de o país estar a pouco mais de nove meses das Olimpíadas. Mas dentro da própria legenda há quem diga que o titular do Turismo dificilmente tomará uma atitude contundente como fez Padilha.
Pelos cálculos peemedebistas, nem é necessária a saída de outros ministros. A decisão de Padilha, por si só, é emblemática. “O recado foi dado. A noiva peemedebista está no salão à espera do buquê”, disse um analista do partido. No mesmo instante em que mantém apoio a Dilma, Temer almoça com senadores do PSDB para debater a economia e os desdobramentos da crise política e reúne-se com investidores e representantes do mercado financeiro colocando-se como fiel depositário de uma transição. Ainda que de forma oblíqua, como é próprio do partido. “O PMDB não faz as coisas. Ele vai fazendo”, disse um aliado de Temer.
Padilha é, de todos os titulares da Esplanada, o mais próximo de Temer. Entrou no ministério apadrinhado pelo vice-presidente e, quando este assumiu a articulação política do governo, puxou o parlamentar gaúcho para ajudar nos trabalhos da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) cuidando, principalmente, do varejo da política — distribuição de cargos e pagamentos de emendas parlamentares.
O Planalto acusou o golpe. “É muito estranha a atitude de Padilha, até porque não é do feitio dele agir desta maneira”, criticou um interlocutor palaciano. Oficialmente, a saída de Padilha teria sido motivada pela recusa do governo em aceitar uma nomeação para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e de outros nomes do PMDB gaúcho, incluindo uma indicação para o Ministério da Saúde. Todas as investidas foram sem sucesso. “Isso tudo é bobagem. O governo apenas deu o pretexto para que Padilha desembarcasse”, acrescentou um aliado.
O Planalto viu com preocupação a saída de Padilha. O ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, almoçou com a presidente. No início da tarde, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, estava com Dilma também. Mais tarde, juntaram-se a eles os titulares da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, para analisar a conjuntura. Assessores palacianos não tinham até o início da tarde uma análise concreta sobre a saída de Padilha. Mas a justificativa de ter saído após ser contrariado por uma indicação à Anac não convenceu. Isso porque em janeiro a agência deve ter outra vaga aberta.
O fato de ele ter simplesmente protocolado uma carta no Planalto antes de conversar com Wagner depois que o ministro não o recebeu também soou estranho. Na próxima segunda-feira, o tema dominará, inevitavelmente, a reunião da coordenação política. O entendimento é o de que, por ora, Temer tem tentado se manter distante das conversas para não demonstrar apoio nem a um nem a outro lado.
Mas as recentes intervenções do vice-presidente incomodaram muito o governo. Na última quinta-feira, Temer estava na base aérea, pronto para embarcar para São Paulo, quando Dilma o chamou às pressas para uma reunião no Palácio do Planalto. Ficou por apenas meia hora e defendeu que a presidente deveria “ter uma postura institucional diante do caso e evitar o confronto direto com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha”. No dia anterior, o peemedebista acatou o pedido de impeachment contra Dilma. “Imagina se Dilma não tivesse aparecido para o pronunciamento rebatendo Cunha? Como nós estaríamos agora?”, questionou um interlocutor da presidente Dilma.
Na próxima semana, Dilma se reunirá com governadores aliados, com os ministros palacianos. “O PMDB tem que ter paciência. O cavalo está selado na frente para você montar”, disse um interlocutor. O Planalto conta com o apoio dos titulares do Executivo nos estados, tanto dos que apoiam o governo, quanto com os de oposição, sendo um deles o de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).