Pouco mais de um ano depois de encerradas as eleições presidenciais mais apertadas da história, a polarização entre “petistas” e “tucanos” expõe, agora, um país ainda mais dividido em torno do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Frentes a favor e contra o afastamento se mobilizam e organizam atos que prometem novos confrontos e mais instabilidade política. Neste momento, o maior “adversário” de Dilma é a parcela do principal aliado nas urnas: o PMDB percebe no aprofundamento da crise política a chance de ascensão do vice-presidente Michel Temer, pessoalmente o maior beneficiário caso o desfecho seja desfavorável à petista. A ala peemedebista pró-impeachment promete organizar uma frente de governadores em apoio à mudança de comando no Planalto. Já a oposição, encabeçada pelo PSDB, tenta negociar com Temer aquilo que o vice-presidente não quer entregar: a promessa de não concorrer à reeleição em 2018.
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Um PMDB dividido se debate em torno do impeachment. Muito próximo a Temer, o ex-ministro da Aviação, Eliseu Padilha, foi o primeiro a pular do barco governista. A alá pró-impeachment trabalha para arrancar do governo o ministro de Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). No Congresso, o partido está completamente rachado, sem que nenhum cacique unifique os parlamentares. A bancada na Câmara se divide em cinco grupos: sob a influência do presidente Eduardo Cunha, do líder Leonardo Picianni (RJ), os independentes pró-Palácio do Planalto sob o comando de ministros peemedebistas e os independentes oposicionistas. No Senado, o presidente Renan Calheiros (AL) e o líder da bancada, Eunício Oliveira (CE), estão mais próximos ao governo, mas sem poder de persuasão suficiente para garantir apoio a Dilma. Já no Estado do Rio de Janeiro, Dilma tem o apoio explícito do governador peemedebista Luiz Fernando Pezão e do prefeito Eduardo Paes, que já classificaram, nesta ordem, como “lamentável” e “escárnio” a iniciativa do processo.
Rede da Legalidade
Ao lado de Dilma outra infantaria também se arma.
Outros movimentos sociais estão prontos para fazer barulho. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) anuncia várias mobilizações de rua contra o impeachment. Para isso, a central vai se reunir hoje com outros movimentos sociais, como o MST e a Via Campesina, para definir um calendário de atos em defesa de Dilma. Já no Planalto, a presidente se organiza para atrair empresários influentes, enquanto Lula trabalhará para mobilizar apoio nas ruas.
Retaliação
O processo de impeachment foi deflagrado quarta-feira por Eduardo Cunha.