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Estado de Minas

Sociedade civil se organiza a favor e contra impeachment de Dilma

Políticos, movimentos sociais e centrais sindicais a favor e contra o impeachment de Dilma se mobilizam em todo o país para influenciar o andamento do processo no Congresso Nacional


postado em 07/12/2015 06:00 / atualizado em 07/12/2015 17:56

Eduardo Cunha deflagrou o processo de impeachment da presidente na Câmara (foto: Alex Ferreira/Câmara dos Deputados - 19/11/15)
Eduardo Cunha deflagrou o processo de impeachment da presidente na Câmara (foto: Alex Ferreira/Câmara dos Deputados - 19/11/15)

Pouco mais de um ano depois de encerradas as eleições presidenciais mais apertadas da história, a polarização entre “petistas” e “tucanos” expõe, agora, um país ainda mais dividido em torno do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Frentes a favor e contra o afastamento se mobilizam e organizam atos que prometem novos confrontos e mais instabilidade política. Neste momento, o maior “adversário” de Dilma é a parcela do principal aliado nas urnas: o PMDB percebe no aprofundamento da crise política a chance de ascensão do vice-presidente Michel Temer, pessoalmente o maior beneficiário caso o desfecho seja desfavorável à petista. A ala peemedebista pró-impeachment promete organizar uma frente de governadores em apoio à mudança de comando no Planalto. Já a oposição, encabeçada pelo PSDB, tenta negociar com Temer aquilo que o vice-presidente não quer entregar: a promessa de não concorrer à reeleição em 2018.

Também o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que na quarta-feira passada aceitou a abertura do processo de impeachment depois de frustrada a barganha com o PT para o arquivamento do seu processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara, espera com a nova agenda desviar o foco de si. A reboque da Operação Lava-Jato, Cunha é alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) e tem confirmadas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contas não declaradas na Suíça. Dada as circunstâncias da negociação malsucedida que levaram o presidente da Câmara a aceitar a abertura do processo de impeachment, a base de sustentação de Dilma questiona a legitimidade e motivação de Cunha para dar início a um processo de tal gravidade.

Na Câmara dos Deputados, a Força Sindical comandada pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva (SD-SP) cria um comitê nacional pró-impeachment e traça uma estratégia para constranger mais de 200 deputados da base aliada de Dilma formada pelo PC do B, PDT, PMDB, PP, PR, Pros, PSD, PRB e PT, a começar pelo líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), que integra a facção pró-Dilma. O deputado do Solidariedade anuncia panfletagem com carro de som nas portas das residências desses deputados em seus respectivos estados. Também grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem pra Rua, organizam agenda de mobilizações, convocando para o próximo domingo 13 manifestações de rua.

Um PMDB dividido se debate em torno do impeachment. Muito próximo a Temer, o ex-ministro da Aviação, Eliseu Padilha, foi o primeiro a pular do barco governista. A alá pró-impeachment trabalha para arrancar do governo o ministro de Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). No Congresso, o partido está completamente rachado, sem que nenhum cacique unifique os parlamentares. A bancada na Câmara se divide em cinco grupos: sob a influência do presidente Eduardo Cunha, do líder Leonardo Picianni (RJ), os independentes pró-Palácio do Planalto sob o comando de ministros peemedebistas e os independentes oposicionistas. No Senado, o presidente Renan Calheiros (AL) e o líder da bancada, Eunício Oliveira (CE), estão mais próximos ao governo, mas sem poder de persuasão suficiente para garantir apoio a Dilma. Já no Estado do Rio de Janeiro, Dilma tem o apoio explícito do governador peemedebista Luiz Fernando Pezão e do prefeito Eduardo Paes, que já classificaram, nesta ordem, como “lamentável” e “escárnio” a iniciativa do processo.

Rede da Legalidade

Ao lado de Dilma outra infantaria também se arma. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), o ex- governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) e o presidente do PDT, Carlos Lupi, lançaram ontem o que chamaram de “Rede da Legalidade”, contra o impeachment, em referência à iniciativa encabeçada por Leonel Brizola em 1961, que buscou organizar uma resistência à primeira tentativa de golpe contra João Goulart. Todos eles classificam o processo de impeachment de “golpe” porque entendem não haver crime de responsabilidade doloso que o justifique. Se na década de 1960 a Rede da Legalidade teve o rádio como principal canal de difusão, agora ela se valerá das redes sociais. Flávio Dino anunciou o lançamento da página “Golpe nunca mais”, no Facebook, alusão ao projeto “Brasil nunca mais”, que denunciou os crimes cometidos durante o período da ditadura militar. Segundo Dino, o objetivo é “mostrar o que acontece quando a Constituição não é respeitada”.

Outros movimentos sociais estão prontos para fazer barulho. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) anuncia várias mobilizações de rua contra o impeachment. Para isso, a central vai se reunir hoje com outros movimentos sociais, como o MST e a Via Campesina, para definir um calendário de atos em defesa de Dilma. Já no Planalto, a presidente se organiza para atrair empresários influentes, enquanto Lula trabalhará para mobilizar apoio nas ruas.

Retaliação

O processo de impeachment foi deflagrado quarta-feira por Eduardo Cunha. Oficialmente, o parlamentar alegou que “ouviu as ruas” e usou como base para autorizar a tramitação do processo as chamadas “pedaladas fiscais” e a abertura de créditos suplementares em 2015 sem a autorização do Congresso, descumprindo assim a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Mas, nos bastidores, o deputado teria agido em retaliação à decisão do PT de liberar os três representantes do partido no Conselho de Ética para votar favoravelmente ao processo aberto contra ele por quebra de decoro parlmentar. Cunha é acusado de ter mentido na CPI da Petrobras sobre a existência de contas na Suíça. Ele é investigado na Operação Lava-Jato pelo suposto drecebimento de propina da Petrobras durante negociação de contrato.


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