Brasília - A possibilidade de um longo e arrastado processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff sangraria não apenas a titular do Palácio do Planalto, mas todo o Brasil na visão de analistas políticos e econômicos. O país, afundado em uma recessão econômica – que pode virar uma depressão –, com índices de desemprego crescentes, inflação de dois dígitos e retrocessos até mesmo no processo eletrônico de votação, passará por tempos ainda mais sombrios nos próximos meses. Alguns têm esperança de que, ao fim de tudo, aconteça uma virada de página. “O país já está em crise, paralisado, há dois anos. Se as coisas se resolverem em quatro meses, ótimo. Mas elas precisam se resolver”, defende o cientista político Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa de São Paulo (Insper). “Se a presidente Dilma for afastada, forma-se um governo de coalizão entre PMDB e PSDB e retoma-se a confiança na economia. Se ela não for afastada, que se vire a página, se esqueça de Eduardo Cunha e comece a governar”, completa.
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Governo está atento às tentativas de produzir instabilidade no país, diz DilmaTemer busca manter distância da crisePT e PMDB avaliam abrir mão de presidir Comissão Especial do impeachmentPresidente busca manter agenda intensa durante a criseGoverno e oposição procuram setor produtivo, que pede decisão rápida sobre impeachmentImpeachment de presidentes na América Latina não é novidadeImpeachment preocupa setores da saúde, educação e meio ambienteANO PERDIDO Na economia, o receio é de que o próximo ano seja “perdido” à espera de decisões políticas. “É bom o que está acontecendo porque, finalmente, estamos terminando 2014, que engoliu 2015, que não existiu. Seja como for, temos uma limitação: as incertezas, que não são boas para as bolsas”, afirma o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Para o especialista, a abertura do processo de impeachment, depois de gerar a alta dos índices da Bovespa e a queda do dólar, leva agora os investidores a “fazerem contas”. “Depois de uma euforia inicial, ficou evidente que o impeachment não é um evento tranquilo. Muitas dúvidas se instalam. Não acho razoável que o Michel Temer vá fazer uma reforma na economia atual, por exemplo. E, caso a presidente continue, será que essas questões serão resolvidas?”, indaga.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Carlos Pastoriza, acredita que a principal condição para que a economia se recuperar é “virar a página” da crise política com ou sem afastamento.
AGITAÇÃO O professor de economia Jorge Arbache, da Universidade de Brasília (UnB), argumenta que as condições para uma crise econômica se acumulam desde 2011: “a agitação política foi a faísca necessária para que ela se precipitasse e se agravasse”. “A crise chegaria no Brasil entre 2018 e 2019, com problemas de balanço, pagamento de funcionários.