Jornal Estado de Minas

Embate pela liderança do PMDB é uma estratégia pelo impeachment de Dilma


A liderança da bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, que pode ser decisiva na votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), se tornou foco de disputa entre as duas alas do partido: a que trabalha pelo afastamento, vislumbrando Michel Temer no lugar da petista, e a que prega a continuidade do governo. Enquanto conseguia mais uma vitória no Conselho de Ética nessa quarta-feira (9), o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) arquitetou a substituição do líder Leonardo Picciani (RJ) por Leonardo Quintão (MG). De imediato, os governistas, capitaneados pelo presidente do Senado Renan Calheiros, começaram uma ofensiva para reverter a troca dos Leonardos.

Aliado da presidente Dilma Rousseff, o ex-líder Picciani era o canal do governo com o PMDB na Câmara. A ala do partido pró-impeachment conseguiu protocolar 35 assinaturas para tirá-lo da liderança. O movimento veio na manhã seguinte à vitória dos oposicionistas no plenário. Eles conseguiram emplacar uma chapa alternativa, com os rebeldes da base e a oposição, para formar a comissão que dará o parecer sobre a abertura ou não do processo contra Dilma. Na sequência, a decisão foi suspensa pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Edson Fachin – na quarta-feira, o plenário da Corte decidirá sobre o assunto. Picciani trabalhava para indicar para a comissão somente os contrários ao impeachment, alinhados com o governo Dilma.

Mal assumiu e Quintão já deu um tom diferente do que será sua liderança.
O peemedebista mineiro disse que seu posicionamento sobre o afastamento da presidente Dilma a ser defendido na tribuna da Câmara será decidido com a bancada. Ele disse ter o apoio do vice-presidente Michel Temer e que vai trabalhar com o Senado e a Executiva do PMDB. Quintão disse que toda posição de líder tem que refletir a maioria do partido. Ele afirmou não ter lado na disputa. O novo líder disse que, se for convidado, estará à disposição para conversar com Dilma, mas que o partido não trabalha com nenhuma liderança. “Qualquer decisão será tomada democraticamente”, reforçou. Na lista de apoiadores de Quintão há aliados de Temer, como Edinho Araújo (SP).

Minutos depois da troca de líderes, o núcleo duro do governo iniciou uma ofensiva com as lideranças partidárias e governadores para que eles interfiram na tentativa de demover a bancada do PMDB.
Para Picciani voltar ao posto é necessário retirar pelo menos duas assinaturas do documento protocolado na secretaria-geral da Câmara.

LICENCIADOS Os governistas estão procurando deputados federais licenciados alinhados com o governo e pedindo que eles saiam dos cargos de secretários estaduais ou municipais e retornem à Câmara para ajudar Dilma. Picciani começou a recolher assinatura para voltar à liderança. Ele está pedindo a aliados que retornem às cadeiras na Câmara para reforçar seu apoio. Por enquanto, se fala na volta dos secretários do Rio de Janeiro, Marco Antônio Cabral e Pedro Paulo, titulares das pastas de Esportes e Governo.

Enquanto o caso de Picciani e Quintão não se resolve, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, está em intensas conversas com os governos para garantir votos para impedir a abertura do processo de impeachment. A estratégia é a mesma. Os secretários e ministros devem ser exonerados para garantir votos favoráveis à petista. Em Minas Gerais, estariam certas as voltas temporárias dos secretários de Governo, Odair Cunha (PT), e Ciência e Tecnologia, Miguel Corrêa Júnior, e dos ministros do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, e do Esporte, George Hilton (PRB). Eles, porém, por enquanto ficam nos cargos, devendo ser exonerados somente no momento da votação do pedido de impeachment.

Enquanto isso...

...Pedido de afastamento


O PSOL e a Rede protocolaram nessa quarta-feira (9) uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) pedindo o afastamento do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara.
Os dois partidos alegam que Cunha está usando o cargo para atrapalhar investigações sobre ele próprio em curso na Casa. O documento, de mais de 20 páginas, contém denúncias de procedimentos adotados por Cunha que, segundo os deputados, são incompatíveis com a função de presidente da Câmara. A representação, assinada por oito parlamentares, foi recebida pela subprocuradora geral da república Ela Wiecko. Para o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) há a necessidade de pôr “limite” às “manobras” de Cunha.
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