O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), manobrou novamente e conseguiu adiar pela quinta vez, no Conselho de Ética da Casa, a abertura do processo de cassação contra ele, em razão, de seu envolvimento com a Operação Lava-Jato. A força-tarefa do Ministério Público apurou que Cunha mantém contas na Suíça, o que ele sempre negou. O adiamento, mais uma vez, foi articulado com a Mesa Diretora da Câmara, que determinou o afastamento do deputado Fausto Pinato (PRB-SP) da relatoria do processo por quebra de decoro parlamentar contra Cunha. A decisão foi do vice-presidente Waldir Maranhão (PMDB-MA), outro aliado do peemedebista.
Depois de sorteio para substituir Pinato, na sessão dessa quarta-feira (9) à tarde, a lista tríplice para ocupar o cargo de relator ficou composta pelos deputados Leo de Brito (PT-AC), Sérgio Brito (PSD-BA) e Marcos Rogério (PDT-RO). À noite, o deputado de Rondônia foi escolhido relator do processo. O parlamentar já está produzindo um novo parecer prévio e pode apresentá-lo hoje. Como seu antecessor, Rogério deve votar pela admissibilidade do processo de cassação contra o peemedebista. Araújo afirmou pretende votar o novo documento na próxima terça-feira.
Tropa de choque
O presidente do conselho bem que tentou votar nessa quarta-feira a abertura do processo contra Cunha, mas foi atropelado pela tropa de choque do presidente da Câmara. Para evitar novos adiamentos, Araújo cassou a palavra dos integrantes do colegiado e, quando começou a analisar os requerimentos, esbarrou no do deputado Manoel Júnior (PMDB-PB), outro aliado de Cunha. O pedido dele recebeu parecer favorável da Mesa Diretora para retirar Pinato. E mais. A Mesa determinou ainda a anulação de todos os atos da comissão desde a escolha da relatoria.
O clima de tensão entre os 20 integrantes do colegiado chegou à temperatura máxima, com xingamentos, discussões e ofensas entre os deputados. Para contra-atacar, Araújo designou como relator o deputado José Geraldo (PT-BA), o segundo da lista tríplice original – encabeçada por Pinato –, mas novamente foi atropelado. Fausto Pinato não escondeu seu descontentamento em sair no tapetão e afirmou: “Enquanto tiver o comando (de Cunha) da Mesa, fica difícil desenvolver.Temos que aguardar. Estamos falando do julgamento do terceiro homem mais poderoso da República.
Pressão O deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), recém-indicado para o cargo de líder do PMDB na Câmara pelas mãos de Cunha, mostrou a que veio: para pressionar o presidente do Conselho, Quintão apelou para que Araújo encerrasse a sessão e convocasse uma nova para 24 horas depois. E foi atendido. A reação foi imediata. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) disse que a situação era humilhante para o colegiado e que a manobra se tratava de “jogatina” e “chicana”. “O que estamos vivendo aqui nunca vivemos. Isso é um circo que está sendo montado, porque quem está sendo julgado é o presidente da Casa”, disse.
E o clima ficou ainda mais tenso quando alguns membros da Mesa Diretora, como Mara Gabrilli (PSDB-SP) e Alex Canziani (PTB-PR), vieram à sessão informar que a decisão que retirou o Fausto Pinato da relatoria foi pessoal do vice-presidente Waldir Maranhão. Visivelmente contrariado, Araújo não se conteve ao decidir pelo novo adiamento. “Isso é golpe. Não podemos continuar com, a cada hora, uma nova ordem. Não somos meninos de escola. Somos deputados”, desabafou às 16h10, quando a sessão foi encerrada. (Com agências)
"Está difícil trabalhar nesta Casa. Se precisar, vamos recorrer ao Supremo para mostrar isso. Se precisar, vou recorrer ao papa"
José Carlos Araújo (PSB-BA), presidente do Conselho de Ética
"Enquanto tiver o comando (de Cunha) da Mesa, fica difícil desenvolver. Temos que aguardar. Estamos falando do julgamento do terceiro homem mais poderoso da República"
Fausto Pinato (PRB-SP), relator afastado
"O que estamos vivendo aqui nunca vivemos. Isso é um circo que está sendo montado porque quem está sendo julgado é o presidente da Casa"
Júlio Delgado (PSB-MG), integrante do Conselho de Ética