Brasília - A decisão do PSDB de unificar o discurso em favor do impeachment não surpreendeu o governo. Para auxiliares da presidente, está claro que os tucanos querem dar "um golpe" para tirar Dilma do cargo. "O governo tem interesse em que esse processo seja julgado rapidamente, mas a lei e a Constituição precisam ser respeitadas", afirmou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. "Não se pode pacificar o país fora da lei e da Constituição e não há qualquer justa causa para o impeachment."
O titular da Justiça considera que "não há nenhuma novidade" na decisão do PSDB. Segundo ele, "desde o anúncio das eleições, eles (os tucanos) buscam reverter o resultados das urnas das mais variadas formas". "A novidade é que pessoas que lutaram contra a ditadura parece que agora acreditam que a melhor saída para o país é uma medida que afronta a Constituição e os mais elementares princípios democráticos."
Vista
De imediato, o governo está preocupado com a possibilidade de o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes empurrar para fevereiro a tramitação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Próximo ao PSDB, Mendes sinalizou a intenção de pedir vista na ação que questiona o rito do afastamento, causando apreensão no Palácio do Planalto, que trabalha para se livrar o mais rápido possível desse processo.
Cardozo não quis comentar a possibilidade Mendes pedir vista do processo, sob a alegação de que não pode emitir opiniões sobre hipóteses. Mas a ameaça foi vista por auxiliares da presidente como "o pior dos mundos".
Um dia após conversa entre Dilma e o vice Michel Temer, a desconfiança permanece no Planalto. Embora tenham estabelecido um pacto de civilidade para consumo externo, nos bastidores uma guerra fria movimenta o governo. Temer vai se encontrar nesta sexta-feira, 11, com Mendes, em São Paulo, em inauguração de uma filial de um instituto do qual o ministro é sócio. Para interlocutores de Dilma, o vice adotou uma agenda de quem defende a deposição.
A estratégia acertada no Planalto, porém, consiste em não alimentar as divergências entre Dilma e Temer. "Sem nenhum tipo de otimismo falso, não vejo estremecimento", disse o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo). Para Dilma, não há muito a fazer para recompor a aliança.