Pelo menos 26 cidades do Leste mineiro podem estar envolvidas em desvios do Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR). Documentos apreendidos durante a Operação Tyrannos, realizada pela Polícia Federal (PF) e Ministério Público Federal (MPF), em parceria com a Controladoria Geral da União (CGU), indicam que as irregularidades podem ser bem maiores do que o apurado inicialmente. A estimativa dos integrantes da força-tarefa que investiga o caso é que os desvios possam chegar na casa dos R$ 72 milhões, somatória dos valores repassados pelo Ministério das Cidades, via Caixa Econômica Federal (CEF), para financiar a construção de moradias para trabalhadores rurais nesses municípios.
As irregularidades envolvem sindicatos e associações de trabalhadores rurais, funcionários da CEF e construtoras, tendo como principal articulador, de acordo com as investigações, o Centro de Tecnologia Alternativa e Suporte Técnico à Agricultura Familiar (CTAF), com sede em Manhuaçu. Um dos presos na operação – um dos fundadores do CTAF e ex-presidente da entidade – é Aurineide Rodrigues Pereira, que já foi dirigente da Federação dos Trabalhadores Rurais de Minas Gerais (Fetaemg). Ele é dono da Constru-Art Rodrigues e Dutra Construções e da Macota Construções, todas com sede em Martins Soares, ambas investigadas pela operação. A Comercial Tigrão também é investigada.
Foram presos os dois irmãos de Aurineide, o vereador de Durandé Flávio André Pereira (PT), conhecido como André do Sindicato, por causa de sua atuação na entidade, e o presidente da Câmara Municipal de Martins Soares, Felipe Rodrigues Filho (PTB), também integrante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade e diretor da Fetaemg. Segundo informações da Câmara Municipal das duas cidades, os dois continuam presos. A reportagem do Estado de Minas deixou recados com as secretárias, mas nenhum deles retornou o pedido de entrevista.
LUDIBRIADOS
De acordo com as investigações, os trabalhadores rurais estavam sendo ludibriados pelas entidades organizadoras e obrigados a pagar uma taxa mensal que não existe no programa.
As empresas de Aurineide e as entidades ditas organizadoras dominavam todo o processo. Ou seja, selecionavam as famílias, faziam os projetos, as obras, compravam o material e ainda cobravam taxas que não são previstas. Muitos dos trabalhadores estavam pagando as taxas acreditando que elas eram as prestações mensais do financiamento.