Brasília – Com a abertura oficial do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, chegou a hora dos dois exércitos –os aliados e os adversários – da petista começarem a traçar as estratégias políticas para ver quem sobrevive no final da disputa. O primeiro embate ocorreu nesse domingo, quando defensores do afastamento da presidente foram às ruas manifestar contra o governo. Apesar da tendência de uma batalha mais morna nas praças e avenidas do país neste momento, por causa, sobretudo, das festas de fim de ano, a guerra política já foi iniciada e cada time escolheu seus interlocutores de confiança.
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Grupos preparam novos atos pró-impeachment para marçoContra o impeachment, Flávio Dino vira alvo de protesto no MaranhãoAto pró-impeachment de Curitiba tem homenagem a Moro e críticas a FachinPara comandante, Exército 'acredita nas instituições'Banda da Guarda Presidencial toca rock, após troca da bandeiraTSE julga nesta terça-feira recurso de Dilma em julgamento sobre irregularidades na campanhaMas isso não significa um apoio incondicional ao impeachment a partir de agora. “Se há quem ache que a presidente não tem mais condições de conduzir um diálogo para tirar o país da atual paralisia, também existem aqueles que temem o depois, por não saber o que acontecerá ao Brasil”, ponderou Melo. Todos os cenários, inclusive, são nebulosos.
Caso a presidente caia e o vice-presidente Michel Temer assuma o Planalto, poderá até ter um período de trégua com a mídia. Mas a crise econômica vai continuar. “Temer também enfrentará uma oposição feroz, formada pelo PT e pelos movimentos sociais. A vida dele não será fácil”, completou Melo. “Por tudo isso, o setor produtivo ainda não se posicionou com convicção quanto a esse debate”, acrescentou o cientista político do Insper.
O PMDB também é outro fator que poderá desequilibrar a disputa, embora o PMDB sempre seja marcado por ser uma legenda que jamais está unida em torno de um mesmo ideal. O partido tem a tradição de sempre manter um pé em cada canoa para evitar naufrágios.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já se posicionou claramente a favor do afastamento da presidente. Na semana que passou, ganhou o auxílio luxuoso do vice-presidente Michel Temer que, se por um lado afirmou à Dilma que não fará gestos para desestabilizá-la nem ao governo, por outro não interferirá nos rumos que o partido tomará daqui para a frente. O PMDB do Senado, por exemplo, é mais próximo do Planalto. “Não somos a favor do governo, somos a favor do país. Por isso, queremos aprovar matérias que sejam importantes para nos tirar dessa crise econômica”, afirmou o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE).
Abandonar o barco
Na avaliação do mestre em ciência política Lucas de Aragão, PMDB, PP, PR e PSD são a legendas mais susceptíveis a abandonar o PT. “São partidos que formam a base aliada meio cinzenta porque não tem ideologia definida. Se virem que um governo do PMDB depois pode dar certo com certeza vão mudar de lado”, afirmou o também sócio-diretor da consultoria Arko Advice.
Existe também a imponderabilidade quanto ao peso das manifestações de rua no processo de impeachment.
A adesão às manifestações de ontem são um termômetro também para a definição de estratégias dos movimentos pró-impeachment. O Movimento Brasil Livre (MBL) aguarda essa avaliação para definir a data da próxima grande mobilização, mas já foi decidido que não será em dezembro por ser um mês mais esvaziado do ponto de vista político. Também está indefinido se o grupo irá retomar o acampamento em frente ao Congresso, onde esteve em outubro e novembro.
Já os movimentos ligados ao Planalto se reuniram com o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, na última quinta-feira, para cobrar reivindicações da área social, como avanços nas medidas previstas no Plano Nacional da Educação (PNE), na reforma agrária, segurança da manutenção do Minha casa, minha vida e retirada do regime de urgência do projeto de lei antiterrorismo. A presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, nega que atender à essas demandas seja uma condicionante de apoio. “São pautas cotidianas, não condições de apoio à presidente Dilma na luta contra o golpe”, disse. O encontro foi uma prévia para reunião com a presidente, que pode ocorrer na próxima quinta-feira.
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