Brasília - A Operação Lava-Jato, que já prendeu empreiteiros, doleiros, lobistas e políticos, chegou ao coração do maior partido brasileiro: o PMDB, que ameaça romper oficialmente com o governo. Logo nas primeiras horas dessa terça-feira (15), o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), estava acordado quando a PF chegou. Parte dos 53 mandados de busca e apreensão, solicitados pela Procuradoria-Geral da República e autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki se baseia em terceiro inquérito contra Cunha, aberto para apurar uso de prerrogativas do cargo para obstruir investigações. Também foram alvo de mandados dois ministros do governo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e Celso Pansera (PMDB-RJ), ex-ministros, um prefeito, deputados e senadores.
Na casa carioca de Cunha, o principal achado foi um táxi, modelo Touareg. Ao checarem a placa, descobriram que o veículo estava registrado em nome de Altair Alves Pinto. Em delação premiada, o lobista Fernando Baiano afirmou que Altair era uma espécie de “faz tudo” de Cunha e intermediário da propina que teria sido recebida pelo peemedebista. Baiano relatou que entregou a ele, em 2011, entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão.
Após a saída dos policiais, Cunha manteve a agenda do dia. Recebeu deputados para a reunião semanal de líderes que faz antes do encontro de lideranças na Câmara. Os mandados da Catilinárias são referentes a sete processos instaurados a partir de investigações da Lava-Jato e foram cumpridos no DF (9), em SP (15), no RJ (14), no PA (6), em PE (4), em AL (2), no CE (2) e no RN (1).
Por volta das 12h30, a PF iniciou buscas no gabinete do deputado Aníbal Gomes (PMDB-AL), ligado ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Também foi cumprido mandado na sede do PMDB em Alagoas. Os policiais também estiveram em alvos ligados ao inquérito que investiga o deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE). A Procuradoria-Geral da República também pediu ao STF que autorizasse busca e apreensão na residência de Renan, mas o ministro Zavascki negou. A mesma solicitação foi feita para busca na casa de Renata Campos, viúva do ex-governador Eduardo Campos, também negada.
O ministro Henrique Eduardo Alves afirmou: “Apesar de surpreso, respeito a decisão do STF. Estou, como sempre, à disposição para prestar qualquer esclarecimento que se fizer necessário”. O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Celso Pansera, declarou que tem pleno interesse no esclarecimento dos fatos sob investigação. Afirmou ainda que abre seu sigilo bancário e fiscal para provar inocência.