Brasília - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se recusou a receber na manhã desta quarta-feira a funcionária do Conselho de Ética encarregada de notificá-lo da admissibilidade de seu processo por quebra de decoro parlamentar. A funcionária esperou na antessala do gabinete do peemedebista por mais de meia hora e foi informada de que Cunha só receberá a notificação às 17h desta quarta-feira. "Ele é presidente, pode tudo", lamentou o presidente do Conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA).
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Eduardo Cunha será notificado até esta quarta-feira pelo Conselho de ÉticaPGR pede ao STF afastamento de Cunha do cargo de deputado federalFinalizada a fase probatória, são contados mais 10 dias úteis para que o relator apresente seu parecer final. No caso de Cunha, Marcos Rogério poderá recomendar a perda do mandato parlamentar.
Vista
Após sete sessões tentando deliberar sobre a ação disciplinar, o colegiado aprovou ontem o parecer preliminar do relator recomendando a continuidade do processo. Os conselheiros rejeitaram o pedido de vista apresentado pela "tropa de choque" de Cunha e, no mesmo dia, o peemedebista Carlos Marun (PMDB-MS) entrou com recurso contra a decisão junto à Mesa Diretora.
Como Maranhão é aliado do peemedebista, Araújo prevê que o recurso de Marun tem grandes chances de ser deferido. "Quem manda é o rei. Qualquer decisão contra ele vai ser embargada", disse. Ele criticou o fato de a instância superior ao colegiado ser a Mesa Diretora, presidida por Cunha, o que deixa o colegiado sem ter para onde recorrer. "Tem de se queixar ao papa. Isso é um absurdo", atacou.
O presidente do Conselho de Ética rebateu hoje as declarações de Cunha, que ontem culpou o governo por agir nos bastidores para prejudicá-lo e acusou Araújo de ser "dependente" do ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner. De acordo com Cunha, a sessão de terça-feira, 15, foi "obviamente" nula e anunciou que poderá recorrer ao Supremo Tribunal Federal.
Araújo disse que não é "dependente de ninguém", que o ministro não lhe dá "pensão" ou paga as contas de seu apartamento e que nunca tratou com o petista do processo contra Cunha no colegiado. O deputado alegou que só se aliou ao PT quando Otto Alencar (PSD-BA) foi candidato a vice de Wagner ao governo baiano. "O presidente está com um espírito de que o governo está contra ele, quer botar a culpa em alguém. Wagner é o boi de piranha dele. Tem sempre alguém o perseguindo", declarou o deputado, para disparar na sequência: "Quem foi do PT abrir conta com ele na Suíça?".