Ameaçada de impeachment, a presidente Dilma Rousseff promete fazer a partir de agora um novo movimento de inflexão à esquerda nos rumos da gestão, em uma tentativa de se manter no Palácio do Planalto. Embora o Executivo tenha obtido uma vitória no Supremo Tribunal Federal, que deu ao Senado a palavra final sobre o rito de afastamento, a cúpula do PT acredita que a salvação de Dilma depende da economia e de sua aproximação com os movimentos sociais.
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Renan diz a artistas não haver uma 'franja' de indício para abrir impeachmentGoverno quer recesso de fim de ano curto para concluir impeachmentPicciani promete contemplar todas as alas do PMDB na comissão do impeachmentPara o Planalto, exposição melhorou avaliação de Dilma"Precisamos de uma nova equação econômica para o Brasil", afirmou a presidente, na terça-feira, em reunião com sindicalistas e representantes de entidades empresariais. "Levamos uns trancos. Mas o que faremos após superar a crise?", perguntou ela na quinta-feira, ao se encontrar com integrantes da Frente Brasil Popular, que no dia anterior organizara atos em defesa do seu mandato.
'Ilusão'
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a Dilma, a ministros e também a dirigentes do PT que é uma "ilusão" ver o Congresso como o campo de batalha mais importante na guerra contra o impeachment. Em jantar com sua sucessora há quatro dias, no Palácio da Alvorada, Lula lembrou que só a sua ligação com o povo o livrou de ser apeado do poder, em 2005, quando eclodiu o escândalo do mensalão.
"Você precisa liberar o crédito, fazer a roda da economia girar e dar notícia boa", aconselhou o ex-presidente, na última conversa com Dilma, segundo relatos de seus interlocutores. "A agenda do País não pode ser só ajuste fiscal e Lava Jato", emendou ele, numa referência à operação da Polícia Federal que prendeu empresários, pesos pesados do PT e ameaça o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Na avaliação do ex-presidente, se nada for feito rapidamente haverá uma "tempestade perfeita" que pode levar à pressão das ruas pelo impeachment, com inflação em alta, salário em baixa e desemprego na casa de dois dígitos antes de março de 2016.
Vale tudo.
"Vamos manter o marco legal da democracia contra a política do vale tudo", declarou Dilma, quando agradeceu aos movimentos sociais pela defesa do seu governo nas ruas.
A percepção do núcleo político do Planalto é a de que o vice Michel Temer (PMDB) conspira ao lado de Cunha para tirar Dilma do cargo e, embora tenha sofrido um revés nos últimos dias, precisa ter os passos monitorados.
O governo confia em Renan, mas se mantém em estado de alerta. Auxiliares de Dilma afirmam que, se a economia estiver conturbada em 2016 e o processo de impeachment for aprovado na Câmara, o aliado pode virar algoz, porque não vai "matar no peito" uma causa impopular num ano eleitoral.
"Superada essa crise política, as condições estarão dadas para a retomada do crescimento com distribuição de renda", comentou o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias. "É certo que existem discordâncias (com os movimentos sociais) em relação ao caminho a ser tomado, mas não quanto aos objetivos estratégicos."
Dilma pediu apoio para a criação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Aos empresários e dirigentes sindicais, a presidente disse que se trata de um imposto com menos impacto na inflação e prometeu a divisão dos recursos arrecadados com Estados e municípios. "Não vamos fixar (a duração) em um ano, dois anos ou três anos. Isso a gente debate no Congresso", observou.
O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, mandou ao mercado o recado de que a mudança no comando da Fazenda não significa o fim do ajuste fiscal.