São Paulo, 21 - O presidente do PT, Rui Falcão, afirmou à Polícia Federal que "setores da mídia monopolizada e parte do aparelho do Estado capturado pela direita" tentam "criminalizar" o PT. A declaração foi no dia 8 de dezembro, em Brasília. A PF indagou se ele gostaria de nomear os "setores da mídia monopolizada e parte do aparelho do Estado capturado pela direita", mas o presidente do partido esquivou-se e "preferiu não mencioná-los".
Ao delegado da PF José Azevedo de Sousa, o presidente do PT anotou que "os objetivos destes segmentos seriam proscrever o Partido e desestabilizar o Governo da Presidenta Dilma".
Rui Falcão depôs no inquérito instaurado pela PF para investigar o processo sistêmico de distribuição de recursos ilícitos a agentes públicos e a partidos, em especial o PT, o PMDB e o PP.
Segundo o inquérito, esses partidos "indicaram e mantiveram, mediante apoio político, ocupantes do cargo de diretor em diversas Diretorias da Petrobras, nas quais se descobriu um grande esquema de corrupção e lavagem de dinheiro, materializado a partir da solicitação e pagamento de vantagens indevidas incidentes sobre o valor dos contratos celebrados pelas respectivas Diretorias".
Este inquérito da PF corre sob a guarda do Supremo Tribunal Federal. A investigação mira em políticos com foro privilegiado, deputados e senadores. Neste inquérito também já depôs o ex-presidente Lula, não como investigado, mas na condição de informante. Mesma situação de Rui Falcão.
Em um trecho de seu relato, divulgado pelo jornal O Estado de S.Paulo na sexta-feira, 18, o presidente do PT disse que as empreiteiras OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão, Camargo Correa e UTC são as maiores doadoras do partido porque a legenda "tem um bom projeto para o País". Todas as empresas são investigadas por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras.
Rui Falcão afirmou também que não recorda em que momento o PT procurou as empresas investigadas para obter doações, e reiterou à Polícia Federal que as contas das duas campanhas da presidente Dilma Rousseff foram aprovadas pela Justiça Eleitoral. Quando afirmou que a razão para tantos réus delatores da Operação Lava Jato apontarem seu partido como beneficiário da corrupção, ele falou na "tentativa de criminalização do partido".
A PF indagou Falcão a que ele atribui ou justifica a condenação de João Vaccari Neto, quadro histórico e ex-tesoureiro do PT preso desde março na Lava Jato e condenado sob suspeita de arrecadar propinas para o caixa da agremiação.
Rui Falcão disse que "não tinha conhecimento do esquema de corrupção instituído na Petrobras". "Que João Vaccari Neto tinha autorização do partido para solicitar e receber contribuições estritamente dentro dos marcos legais, que portanto se solicitou ou recebeu vantagem indevida não o fez em nome do Partido."
Ele informou que o PT "paga a defesa judicial de Vaccari". "O PT arca com os custos desta defesa pelo fato de que João Vaccari continua a ser filiado ao Partido."
A PF o questionou se "todos os membros do PT têm direito à defesa paga pela sigla". Ele disse: "Não. Têm direito ao custeio de suas defesas os ex-dirigentes no exercício de suas atividades partidárias e em decorrência de funções delegadas pelo partido; que acredita que tais previsões não constem do Estatuto do Partido; que o custeio destas despesas são decisões do Diretório Nacional."
Rui Falcão disse, ainda, que Vaccari não foi expulso da legenda "porque não houve transgressão estatutária, visto que a juízo do Partido não há prova de que João Vaccari tenha praticado os crimes a ele atribuídos".
Ele disse que, em sua opinião, "João Vaccari Neto é inocente."
A PF o questionou sobre empréstimos do partido junto ao Banco Schahin - segundo o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, a instituição financeira emprestou recursos ao PT por meio de 'laranjas' para fazer caixa 2. Rui Falcão informou que "desconhece a realização de empréstimos feitos pelo PT junto ao Banco Schahin"..