E-mails em poder da Polícia Federal revelam que o empresário e pecuarista José Carlos Bumlai usou seu prestígio e amizade com o ex-presidente Lula para fazer lobby e interceder em um negócio envolvendo a Embaixada do Catar e uma empresa de vendas e fusões interessada na aquisição de usina de açúcar no Brasil. As correspondências são datadas de 21 de fevereiro de 2014. Em uma delas, Bumlai escreveu para o secretário executivo do então embaixador do Catar, Mohammed Al Hayki. "Estive hoje tratando do assunto e o sr. Ex-presidente volta dia 27 de fevereiro para o Brasil e marcará a data conforme solicitada no e-mail da Embaixada, ou seja antes de 19 de março."
No cabeçalho da mensagem, enviada às 20h38 daquele dia, Bumlai anotou: "Assunto: Re: Qatar, Embaixador do - Audiência com o Ex-Presidente Lula."
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Bumlai nega à PF ter buscado apoio de Palocci para ex-diretor da Petrobras'A estrutura da Petrobras era do PT', diz José Carlos BumlaiPolícia Federal põe 18 vezes nome de Lula em interrogatório de BumlaiInterrogado pela Polícia Federal sobre o conteúdo das mensagens, Bumlai declarou.
Segundo o amigo de Lula, Marcelo Horcades lhe disse que uma empresa do Catar, a Catar Trading, tinha planos de comprar uma usina de álcool no Brasil. "O embaixador do Qatar desejava avisar o Governo Brasileiro desta intenção, mas não estava conseguindo. O embaixador do Qatar desejava que Luiz Inácio Lula da Silva conversasse sobre o tema com a Presidente Dilma Rousseff."
Ainda de acordo com Bumlai, o empresário disse que "o ex-presidente Lula se aproximou dos países árabes e que a presidente Dilma Rousseff não tinha este interesse".
O interrogatório de Bumlai ocorreu na segunda-feira, 21. Foi o terceiro interrogatório do amigo de Lula. O pecuarista está preso desde 24 de novembro, alvo da Operação Passe Livre, desdobramento da Lava Jato que investiga empréstimo de R$ 12 milhões contraído por Bumlai em outubro de 2004 junto ao Banco Schahin - o real destinatário do dinheiro foi o PT, segundo confessou Bumlai.
Nas duas ocasiões anteriores em que foi ouvido pela PF, Bumlai blindou o ex-presidente Lula. Ele afirmou que jamais manteve qualquer tipo de negócio com o petista. A PF o indagou, no terceiro interrogatório, sobre o e-mail para a Embaixada do Qatar em que cita Lula. "Este episódio foi atípico e não reflete a relação do reinterrogando com o ex-presidente Lula."
Indagado novamente se confirma que nunca tratou de assuntos comerciais ou políticos com Lula, o pecuarista respondeu que "além do caso narrado acima, não se recorda de outros episódios".
O delegado Fillipe Hille Pace, que conduziu os interrogatórios, avalia que Bumlai "faltou com a verdade" ao afirmar que nunca tratara de assuntos comerciais e políticos com Lula.
Questionado se confirma que "nunca conversou" com o ex-presidente sobre o problema que enfrentava com a Schahin, o pecuarista disse. "Nunca conversou sobre este tema com ele (Lula)."
A PF insistiu. Indagado se mantém sua última afirmação, "uma vez que lhe foi demandado que dissesse se tem certeza sobre o fato de que nunca tratou de seu empréstimo com Lula, disse que acredita e que tem quase certeza de que nunca tratou deste tema com o ex-presidente".