Jornal Estado de Minas

Caminhos cruzados

Semelhanças entre trajetórias de Cunha e Collor vão além das acusações de corrupção

Fiat Elba - Foi lançado no Brasil em abril de 1986 como a versão perua do Uno e sucessora da Panoroma. Criado integralmente no país, o modelo vinha em duas versões , sempre com a mecânica do Prêmio , um 1.3 de 59 cv, na configuração S, e um 1.5 a etanol (chamado de ácool ainda). Com amplo porta-malas de 610 litros até o teto, a Elba nunca chegou a ser um sucesso de vendas - Foto: José Paulo Lacerda/AE - 5/7/1992
As histórias do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do senador Fernando Collor de Mello, ex-presidente da República deposto, guardam algumas interseções curiosas. A começar pela ligação com o empresário Paulo César Farias, que em 1989 convidou o então economista carioca a atuar como tesoureiro do comitê eleitoral de Collor no Rio. Além disso, os dois, como chefes de poderes, foram acusados de corrupção. Para completar, o agravamento da crise política que os atingiu tem como importante elemento a descoberta de veículos em situação irregular. Collor foi deposto depois que descobriram que o Fiat Elba usado por sua mulher foi comprado com cheque de uma das contas-fantasmas de Paulo César Farias. O objetivo era lavar o dinheiro de sobras de campanha na compra de bens e ainda na reforma da Casa da Dinda, que passou a ser residência oficial da Presidência no governo do alagoano.


No caminho que pode levar ao afastamento de Cunha passa outro veículo, bem mais sofisticado, mas que deixou mais evidente a ligação do peemedebista com propinas na Petrobras. Agora, o importado Touareg branco – fabricado na Eslováquia e encontrado na casa do peemedebista pela Polícia

Federal – liga definitivamente Eduardo Cunha a Altair Alves Pinto, apontado como o homem da mala para distribuição de propina da Petrobras a políticos do PMDB, segundo delatores do esquema investigado por meio da Operação Lava-Jato. Eduardo Cunha – que já foi denunciado criminalmente ao Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção e lavagem de dinheiro – sempre negou ter se beneficiado dos recursos desviados da petrolífera por meio de contratos superfaturados.

No entanto, o operador do esquema pelo PMDB, Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, garantiu à Justiça que Altair recebeu uma remessa, entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão, em outubro de 2011, que fazia parte da propina de US$ 5 milhões que teria Cunha como destinatário, que foi transportada neste carro.
Em depoimento no acordo de delação premiada, Baiano afirmou: “Que Altair aparentava ser um assessor ou uma pessoa de confiança (de Cunha), até mesmo porque todos os valores entregues no escritório (do presidente da Câmara) foram para Altair”, disse Baiano no acordo de delação premiada.

E não fica só nisso. Outras evidências ligam o peemedebista – que esperneia para evitar sua deposição da presidência da Câmara e a cassação de seu mandato em razão da quebra de decoro parlamentar –, com o carro deixado em sua garagem, mas em nome de Altair. O veículo, de acordo com o Departamento de Trânsito do Rio sofreu 32 multas, sendo que 30 delas foram na capital fluminense, principalmente na Barra da Tijuca, bairro onde mora o peemedebista, e no Centro, onde fica o seu escritório político.

As outras duas foram em Itaboraí – reduto eleitoral do presidente da Câmara e onde vive seu aliado, o prefeito de Nova Iguaçu, Nelson Burnier (PMDB-RJ), outro alvo da Operação Lava-Jato. Altair – dono do carro modelo 2013-2014, com placa LSM 1530, de Nilópolis e registrado como táxi – vem servindo a Cunha desde o ano 2000, quando foi contratado como funcionário do peemedebista ainda na Assembleia Legislativa do Rio. Sem ter como negar o laço com o carregador de mala, o presidente da  Câmara justificou, em nota, que “eventualmente, aluga o veículo para prestar serviços gerais”.

Sucesso

E foi para pagar favores a Cunha – que atuou como um dos mais importantes captadores de recursos para a campanha ao lado de PC Farias – que Collor, ao assumir a presidência em 1990, alçou o colaborador ao posto de presidente das Telecomunicações do Estado do Rio de Janeiro (Telerj), impulsionando sua carreira política. Coincidência ou não, Cunha teve que deixar também essa presidência em razão de suspeitas de irregularidades. Ele, já naquela época, foi acusado de beneficiar uma empresa com contratação superfaturada e também sem licitação.

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