Brasília – Após passar o ano em um “inferno astral”, imersa na pior crise econômica das últimas duas décadas e pressionada politicamente, a presidente Dilma Rousseff não conseguirá descanso nem no fim do ano. Pela primeira vez desde que assumiu o Planalto, em 2011, a petista não vai tirar folga em dezembro, como fez nos últimos anos, e na segunda-feira já estará de volta a Brasília para se reunir com a equipe. O objetivo é apresentar medidas econômicas no início do ano que vem, após a troca de ministros da Fazenda, de onde saiu Joaquim Levy para dar lugar a Nelson Barbosa, e do Planejamento, assumido por Valdir Simão. Especialistas analisam que tirar folga poderia aliviar a tensão à qual a presidente acabou exposta neste ano.
Dilma viajou na quarta-feira para Porto Alegre para passar o Natal com a família. A filha da presidente, Paula Rousseff, está grávida do segundo filho, que deve nascer nos próximos dias.
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Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso também tinham o costume de tirar férias no mesmo período. Lula também costumava ir a Aratu.
DESCANSO ESSENCIAL Para a diretora de Ética e Defesa Profissional da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, Rosylane Rocha, as férias proporcionam um escape para o estresse e tensão provocados pelo trabalho. Rosylane destaca o caráter revigorante do descanso. “É como se neste período houvesse uma recarga de energia para retornar com vigor para uma nova fase de alta produtividade”, diz. A médica do trabalho também ressalta que tentar solucionar um problema, abrindo mão das férias pode ser prejudicial, com desgaste físico e emocional.
No caso da decisão da presidente Dilma de abrir mão das férias, Rosylane entende a necessidade de trabalho da petista, mas diz que reduzir a tensão poderia evitar maiores desgastes. “Por se tratar de chefe de Estado, suas férias não são férias em essência, tendo em vista que deve ser interpelada a todo momento por seus assessores e demais autoridades para assuntos urgentes de interesse da nação. Ainda assim, diminuir a agenda presidencial já aliviaria a tensão e seria importante para se recuperar um pouco do cansaço físico e mental. A decisão de abrir mão das férias, na situação de grave crise, pode ser a única medida possível para evitar maiores desgastes e piorar a tensão”, avalia.
Memória
Protesto, descanso e isopor na cabeça
Durante o primeiro mandato, a presidente Dilma Rousseff manteve o destino das férias: a praia de Inema, na Base Naval de Aratu (BA). No último ano, teve apenas cinco dias de descanso. Um dos motivos do retorno à capital federal foi a cerimônia de posse, em 1º de janeiro, no Palácio do Planalto. No mesmo período, ela lidava com o ajuste fiscal e com a iminência da instauração da CPI da Petrobras. Em 2013, a presidente interrompeu o descanso para visitar Governador Valadares (MG), inundada por enchentes, e retornou no mesmo dia para a praia. No ano anterior, enfrentou um protesto em frente à Base Naval de Aratu, organizado pela comunidade quilombola local que denunciava supostos atos de violência da Marinha contra a comunidade.