Marcado por grandes acontecimentos e avassaladoras emoções em Brasília, não dá para negar que 2015 vai ficar para sempre na memória dos brasileiros. As tensões tiveram seu ápice em 2 de dezembro, quando o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acatou o pedido de abertura de processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT). Polêmica que foi parar no Judiciário e jogou para 2016 o desfecho do principal fato político deste ano. Até chegar ao processo de impeachment, no entanto, muitas nuvens carregadas escureceram o céu de Brasília e do país. Dilma viveu um inferno no primeiro ano de seu segundo mandato, com relações ruins com o Congresso, com o “aliado” PMDB e até com alas do seu PT inconformadas com os cortes do ajuste fiscal. O vice, Michel Temer (PMDB), ressentido por se sentir uma “figura decorativa” no governo, mostrou toda a sua mágoa com Dilma no final do ano, enviando a ela uma carta em que dá claros sinais de rompimento com o Planalto.
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Planalto quer aprovar contas de Dilma para 'robustecer' defesa contra impeachmentCunha: parecer de Gurgacz aprovando contas de 2014 não muda pedido de impeachmentLewandowski marca para esta quarta-feira audiência de Cunha no STF sobre impeachmentEduardo Cunha aceita pedido de impeachment contra presidente Dilma 'Cunha escreveu certo por linha tortas', diz Reale Junior sobre impeachmentPropina Em meio ao fogo cruzado com a presidente Dilma, Cunha se viu envolvido nas investigações de pagamento de propina da Petrobras, deflagradas na Operação Lava-Jato. Acusado de ter recebido US$ 5 milhões de empresa para negociar contrato com a estatal, o peemedebista negou a existência de contas na Suíça durante depoimento na CPI das Petrobras – mentira que rendeu a ele a abertura de um processo disciplinar que pode agora levar à perda do mandato por quebra do decoro parlamentar. Há ainda um pedido de afastamento de Cunha do cargo, de autoria da Procuradoria-Geral da República (PGR), tramitando no STF. Assim como o pedido de impeachment da presidente Dilma, o caso vai ficar para o ano que vem.
Alvo do Ministério Público, Eduardo Cunha esperneou o quanto pôde, queixou-se de estar sendo perseguido e mirou sua metralhadora para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acusando-o de agir politicamente para prejudicá-lo. Janot, na defesa que fez do afastamento do deputado de suas funções, rebateu chamando-o de “delinquente”. Como Cunha, o senador Fernando Collor de Mello, outro investigado na Lava-Jato, também vociferou contra Janot, chamando-o de “filho da p...” em pronunciamento da tribuna do Senado.
A Lava-Jato levou também a um ineditismo na história política do país: pela primeira vez um senador em exercício foi preso.
Brigas em plenário
Pancadarias e baixarias rolaram soltas na capital federal ao longo de 2015. Em abril, a presença inesperada de cinco roedores – um hamster, dois esquilos-da- Mongólia e dois ratos cinzas sem raça aparente – provocou tumulto e correria em reunião da CPI da Petrobras. Os animais teriam sido levados à sala por um funcionário da segunda-vice-presidência da Câmara, exonerado no mesmo dia. Os animais foram soltos logo que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, entrou no plenário. “O circo armado mostra o nível em que nos encontramos”, reclamou na ocasião o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), relator da CPI. Mal sabia ele o que estava por vir.
No início de dezembro, deputados federais e policiais legislativos saíram no tapa durante a votação para a escolha dos integrantes da Comissão Especial do Impeachment – anulada uma semana depois por decisão do STF. No saldo da sessão, urnas quebradas e cabines obstruídas por parlamentares que protestavam contra a votação secreta.
Outro barraco que deu o que falar ocorreu num jantar promovido na casa do senador Eunício de Oliveira (PMDB-CE), com a presença de vários políticos, entre eles, o senador José Serra (PSDB-SP) e a ministra da Agricultura, Kátia Abreu. O evento foi marcado pelo copo de vinho lançado pela ministra no tucano após ouvir dele que é “namoradeira”. No Twitter, a ministra disse que “reagiu” ao comportamento de Serra após ele ter feito um comentário “infeliz, desrespeitoso, arrogante e machista”. O tucano rebateu: disse que foi mal interpretado e fez o comentário com a intenção de “elogio”.
Em meio a esse turbilhão, a população foi às ruas ao longo do ano para pedir o impeachment da presidente Dilma, para defender a sua permanência, para pedir o afastamento de Cunha, para protestar contra a corrupção e para exigir um país melhor. O ano acabou, mas, ao que tudo indica, ele é só o primeiro tempo de um jogo com muitos lances espetaculares, caneladas e talvez expulsões. A partida recomeça depois do intervalo, em meados de fevereiro, quando Congresso e Supremo voltarem de férias..