A força-tarefa da Operação Lava-Jato apreendeu num dos escritórios da Bertin documento de cobrança, liberação de pagamento e oito notas promissórias de R$ 1 milhão cada, com vencimentos entre agosto de 2014 e maio deste ano.
"Documentos apreendidos mencionam pagamentos a Edison Lobão Filho, ex-senador da República.
Descoberta acidental
No momento da prisão de Bumlai em Brasília, outra equipe da PF realizava buscas no escritório do Grupo Bertin, na zona sul de São Paulo. O objetivo principal era encontrar material relacionado ao empréstimo de R$ 12 milhões tomado pelo pecuarista do Banco Schahin, que teria sido usado para quitar dívidas do PT. O dinheiro circulou pelas contas do Grupo Bertin.
Num dos documentos apreendidos nas buscas apareceu a Santri Participações Societárias S.A., registrada em nome de Fernando Antônio Bertin e Natalino Bertin, como devedora notificada por Edison Lobão Filho. "Objeto da mora: 1ª, 2ª e 3ª parcelas do acordo particular de compra e venda de ações das empresas Curuá Energia S/A e Buriti Energia S/A, firmado entre Notificados e Notificante", registra o documento, de 27 de outubro de 2014 - sete meses após ser deflagrada a fase ostensiva da Lava-Jato.
A Buriti e a Curuá são duas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), localizadas em Mato Grosso e Pará, respectivamente.
No mesmo endereço, foram apreendidas oito notas promissórias do Grupo Bertin para Lobão Filho, além de documentos das duas empresas de energia do Mato Grosso. Três deles são de agosto, setembro e outubro de 2015, todos com valor de R$ 1 milhão. Outras cinco notas são mensais emitidas entre janeiro e maio deste ano.
Autorização de pagamento
Em outro malote analisado pela PF entre o material aprendido nos endereços do Grupo Bertin, foram encontrada as autorizações dada pelos atuais conselheiros das empresas Curuá e Buriti, entre eles dois membros da família Bertin, para pagamentos para Lobão Filho e o empresário Filadelfo dos Reis Dias e para Fernando Bertin, datados de julho. São liberações de julho, agosto, setembro e outubro, sempre no mesmo valor.
Filadelfo Dias - dono do Grupo Dias, que tem sede em Cuiabá (MT) e atua nos setores de energia, mineração e saneamento - entrou em litígio em 2013 com o Grupo Bertin por uma disputa societária pelo comando da Mafe Participações, controladora das duas PCHs, a Buriti Energia, em Mato Grosso, e a Curuá Energia, no Pará.
Defesas
O ex-senador Lobão Filho não foi localizado para comentar as investigações. O Grupo Dias informou que se pronunciaria, mas isso não ocorreu até o fechamento desta reportagem.
O criminalista Roberto Podval, que representa o Grupo Bertin, informou que "existiu de fato" uma sociedade com o ex-senador Lobão Filho em uma Pequena Central Hidrelétrica. Segundo Podval, o negócio "foi devidamente registrado e formalizado", mas acabou desfeito.
"Houve uma discussão arbitral quando da separação da sociedade. A discussão acabou provocando a separação da sociedade em uma pequena central hidrelétrica. O distrato ocorreu por causa dessa discussão em torno de valores", afirma o advogado. Podval observou, ainda, que todos os esclarecimentos serão apresentados em juízo..