O ex-assessor da Casa Civil Charles Capella de Abreu, apontado em delação premiada como responsável pelo recebimento de R$ 2 milhões em propina para a campanha de Dilma Rousseff (PT), em 2010, negou nesta quinta-feira, à Polícia Federal, participação no suposto episódio e afastou ter vínculo direto com o ex-ministro Antonio Palocci durante a campanha presidencial.
"O convívio com Palocci era superficial, era de encontrar, oi e tchau, no comitê. Não tinha (relação direta). E a arrecadação não era ele, isso era competência do tesoureiro, que era o José Di Filippi", afirmou a criminalista Danyelle Galvão, defensora de Charles.
Três delatores da Lava-Jato - Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras ligado ao PP, Alberto Youssef, o doleiro que operava propinas, e Fernando Baiano, lobista e operador de propinas do PMDB - disseram ter existido pagamento de propina do esquema montado na Petrobras para a campanha de Dilma, em 2010, a pedido de Palocci - todos com versões divergentes em alguns pontos.
Fernando Baiano, o delator mais recente, diz ter participado de uma reunião em meados de 2010, em um comitê da campanha de Dilma, com Palocci e Paulo Roberto Costa. Nesse encontro, teria sido pedido valor para a disputa presidencial e indicado o nome de Charles como assessor que cuidaria do recebimento de R$ 2 milhões.
Em uma hora de depoimento, o ex-assessor negou ter existido essa reunião em Brasília. "Ficou claro no depoimento que o Charles não conhece essas pessoas (Costa, Youssef e Baiano). A primeira vez que ele viu essas pessoas foi hoje. Ele nega reunião, encontro em hotel, qualquer recebimento, seja esse, seja outro de dinheiro para partido político ou candidato", disse a criminalista.
Comitê
A defesa levou os registros de exoneração e nomeação de Charles para mostrar a falta de vínculos com Palocci. A PF quis saber qual a relação de trabalho na campanha de 2010 entre Palocci e Charles. "Posição do Charles fazia parte de logística e imobiliário do comitê. Alguém precisava de um computador, era o Charles que mandava providenciar, um local de evento, um comitê, era o Charles." Segundo Danyelle, seu papel era operacional e distante da política. "Zero político, zero assessoria política e zero assessoria de arrecadação."
Charles foi ouvido pelo delegado Luciano Flores, da equipe da Lava Jato, em Curitiba, no inquérito que apura a cobrança e o pagamento de R$ 2 milhões em propina, a pedido de Palocci. Depois da oitiva, o ex-assessor da Casa Civil e ex-integrante da campanha de Dilma passou por duas acareações. Pela manhã foi colocado frente a frente com o doleiro Alberto Youssef. E no início da tarde, diante do operador de propinas Fernando Baiano.
Identificação
Colocado frente a frente com o doleiro que operava propina para o PP, Youssef não reconheceu Charles. "Não é", garantiu o doleiro. Peça principal da Lava Jato, Youssef disse que, pela foto mostrada pela PF anteriormente, o rosto era parecido com o do homem para quem ele diz ter entregado R$ 2 milhões, em dinheiro vivo, em um hotel de luxo, em São Paulo, em 2010. O valor teria sido levado a pedido de Paulo Roberto Costa e possivelmente tenha relação com os R$ 2 milhões investigados.
Depois de ser confrontado com o doleiro, o ex-assessor da Casa Civil foi acareado com outro de seus acusadores, o lobista Fernando Baiano. Foi ele que apontou a cobrança de R$ 2 milhões feita por Palocci a Paulo Roberto Costa, que buscava apoio do PT para permanecer diretor de Abastecimento da Petrobras caso Dilma fosse eleita presidente. Costa nega o pedido e diz que foi o doleiro Youssef quem solicitou esse valor de R$ 2 milhões em nome de Palocci.
Baiano, diante de Charles, disse não ter 100% de certeza ao confirmar a fisionomia da pessoa como a que participou do encontro em Brasília em 2010. Mas confirmou que o nome Charles foi o indicado por Palocci para o recebimento dos R$ 2 milhões.