Desde que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) há 25 dias, o prefeito de Betim, Carlaile Pedrosa (PSDB), deu origem a um mistério na cidade. Embora continue despachando, o chefe do Executivo anda sumido do centro administrativo e, por causa disso, levou vereadores a denunciarem o “desaparecimento” ao Ministério Público Estadual (MPE), à Polícia Federal (PF) e ao Tribunal de Contas do Estado (TCE). A procuradora-geral do município, Clélia Coura Horta, afirma que ele está trabalhando em casa, mas reconhece que, nesse período, foram publicados decretos sem a assinatura do prefeito – três deles somam quase meio milhão de reais. O neurologista que acompanha Carlaile, Gustavo Daher, afirmou que o acidente não comprometeu as funções cognitivas do político e que o afastamento da cena pública se trata de “recomendação médica”.
Em 21 de dezembro, Carlaile sofreu o AVC – quando há rompimento de algum vaso do cérebro – e foi imediatamente levado para o hospital. O prefeito, que em 2014 passou por problemas cardíacos, chegou a ficar internado no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital da Unimed de Belo Horizonte, onde recebeu alta em 29 de dezembro. Durante a internação, em 28 de dezembro, ele chegou a sancionar a Lei Orçamentária Anual (LOA) e a doação de imóveis num total de R$ 96,7 milhões para o Instituto de Previdência Social do Município de Betim (Ipremb) para abater dívida com o instituto.
“A cidade está passando por um momento difícil e não sabemos quem está governando e se o prefeito está em condições de exercer suas funções. Não sabemos nem se ele está consciente e se tinha como despachar no hospital”, afirma o vereador de Betim Vinícius Resende (SD). Segundo o parlamentar, a Câmara têm recebido denúncias de irregularidades, o que o levou a protocolar, junto ao vereador Antônio Carlos (PT), denúncia-crime no MPE, especificamente na Procuradoria de Justiça Especializada no Combate aos Crimes Praticados por Agentes Políticos Municipais, na PF e no TCE.
“Estamos pedindo a abertura de inquérito com a apresentação de prontuários médicos, prontuário de alta.
Também intriga a oposição o fato de o prefeito ter, em no dia 7, publicado decreto em que descentraliza o poder no município e delega mais competências a cinco de seus secretários. O texto justifica que há a “necessidade de imprimir maior dinamização ao serviço público municipal”. Vereadores querem saber ainda porque o vice-prefeito, Waldir Teixeira (PHS), não foi chamado para comandar a administração pública no período.
Oponentes Desde 2014, quando Waldir assumiu a prefeitura enquanto Carlaile estava afastado por problemas de saúde, os dois se tornaram oponentes. O vice-prefeito trocou secretários, cancelou contratos e tomou medidas austeras na economia, desagradando o tucano. “Já protocolei um ofício na Câmara Municipal informando que estou à inteira disposição para assumir a prefeitura”, afirma Waldir, que também estranha o “desaparecimento do prefeito”.
A procuradora-geral do município reforça que o prefeito tem despachado de casa e que, nos dias em que esteve internado, assinou leis e decretos que tinham data-limite para publicação. No entanto, ela reconhece que houve a publicação de decretos em 22 de dezembro, quando ele estava no CTI, que não foram assinados por Carlaile. Os decretos concedem R$ 451.106,55 em créditos suplementares no município.
“Foi um erro e já pedimos a suspensão dos atos. Faz parte da máquina pública mandar para a assinatura do prefeito e publicar. Esses ficaram sem assinatura, mas foram publicados”, justifica Clélia, que disse ter conversado com o prefeito e ter notado apenas uma alteração na voz dele. Segundo o chefe de Gabinete da prefeitura de Betim, Mauro Reis, as especulações em torno do estado de saúde do prefeito se devem ao ano eleitoral.
O Estado de Minas tentou por diversas vezes contato, por telefone, com o prefeito, sem sucesso. De acordo com o neurologista Gustavo Daher, médico de Carlaile, o prefeito teve um AVC que, pela rapidez do tratamento, acabou comprometendo apenas a fala do prefeito.