A intenção de Cunha é apresentar os embargos de declaração – pedido de esclarecimento de pontos específicos da decisão tomada – na primeira semana de fevereiro, quando o Judiciário retorna aos trabalho. Os consultores da Câmara têm trabalhado nas últimas semanas com esse prazo. Eles se baseiam no resultado proclamado pela Corte e nos votos dos ministros. A fim de agilizar a análise dos recursos, Cunha não deve esperar a publicação do acórdão.
No entendimento do ministro do STF Marco Aurélio de Mello, o ideal seria esperar a confecção do documento, uma vez que o Supremo pode não reconhecer os recursos apresentados antes disso. “Embargos declaratórios pressupõem um objeto, que é o acórdão. Se não se sabe o conteúdo, você não pode, a partir da presunção do conteúdo, mostrar se ele é omisso ou contraditório”, afirma.
Para que o ministro Luís Roberto Barroso publique o acórdão, é necessário que os outros magistrados liberem seus votos.
Os recursos da Câmara vão se concentrar nos procedimentos para definição da comissão especial responsável pelo tema. Ao julgar o mandado de segurança apresentado pelo PCdoB, o Supremo invalidou a eleição da chapa avulsa eleita em 8 de dezembro, por votação secreta. A Corte estabeleceu o voto aberto e a validade apenas das candidaturas indicadas pelos líderes partidários. Para Cunha e para a oposição, contudo, não ficaram claras as regras, caso os parlamentares rejeitem a chapa oficial.
Apesar de terem como objetivo apenas esclarecer decisões do Supremo, os recursos a serem apresentados pela Câmara podem mudar o resultado do julgamento. “Os embargos de declaração com efeitos infringentes têm caráter excepcional. Se mostrarem que houve omissão ou contradição, podem ser reconhecidos”, afirma o ex-ministro do STF Carlos Velloso. Ele ressalta, contudo, que mudanças nesses casos costumam ser exceção.
No caso da comissão do impeachment, os defensores do voto secreto alegam que esse é o procedimento adotado de modo geral para eleições na Câmara. O intuito é proteger os eleitores de pressões externas. Já os contrários não consideram essa opção transparente.
NOVO CENÁRIO Diante da expectativa de demora do Judiciário em encerrar a discussão, outra opção que pode permitir candidaturas avulsas é a proposta apresentada pelo DEM para mudar o regimento da Câmara. De acordo com o Projeto de Resolução 114, de 2015, apresentado no mesmo dia em que STF encerrou o julgamento, participam da comissão especial “representantes de todos os partidos, admitidas as indicações dos líderes, bem como candidaturas avulsas oriundas do mesmo bloco ou partido”.
Para o ministro Marco Aurélio, a aprovação da proposta pode provocar novos questionamentos na Corte. “Nós teríamos um aparente conflito e, evidentemente, entre o pronunciamento do Supremo que pode ocorrer e uma resolução da Câmara, deve prevalecer o pronunciamento do Supremo”, afirma.
Marqueteiro na Lava-Jato
O próximo alvo da Operação Lava-Jato poderá ser João Santana, o marqueteiro que comandou as campanhas de Lula e Dilma Rousseff ao Planalto, de 2006 a 2014.