Em documentação entregue à Procuradoria-Geral da República, anterior ao acerto de sua delação premiada, o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró afirmou que a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2006, recebeu R$ 50 milhões em propina. O dinheiro teria saído de uma negociação para a compra de US$ 300 milhões em blocos de petróleo na África em 2005. As informações foram divulgadas pelo jornal Valor Econômico nessa segunda-feira (18).
Cerveró atribui a informação a Manuel Domingos Vicente, que presidiu o Conselho de Administração da Sonangol, estatal petrolífera angolana. “Manuel Vicente foi explícito em afirmar que, desses US$ 300 milhões pagos pela Petrobras a Sonangol, companhia estatal de petróleo de Angola, retornaram ao Brasil como propina para financiamento da campanha presidencial do PT valores entre R$ 40 e R$ 50 milhões.”
Segundo o delator, que teve seu acordo firmado em novembro passado, a negociação foi conduzida “pelos altos escalões dos governos brasileiro e angolano, sendo o representante brasileiro o ministro da Fazenda Palocci”. Cerveró foi diretor da Petrobras entre 2003 e 2008. Após ser exonerado do cargo, ele assumiu a Diretoria Financeira da BR Distribuidora, subsidiária da estatal, onde ficou até 2014, por cerca de seis anos.
O delator afirmou no documento que soube da propina por meio de Manuel Vicente. Atualmente, Domingos Vicente é vice-presidente de Angola. “Nestor tinha uma relação de amizade com o Dr.
Detalhes
Cerveró não dá detalhes, nesses papéis, sobre a negociação da propina ou como o dinheiro teria chegado à campanha do PT. O delator conta ainda que a costa angolana era conhecida pela capacidade de exploração de petróleo. “Em 2005, houve uma oferta internacional de Angola, de venda de blocos de exploração em águas profundas, como se fosse um grande leilão”, declarou Cerveró. “O país era extremamente interessante para a Petrobras: tanto pelo regime político do país aliado do governo brasileiro, quanto pelo fato da companhia já operar e ter escritórios desde 1975 em Angola.”
O Instituto Lula informou que “não comentaria supostas delações, quanto mais supostos acordos de delação, vazadas de forma seletiva, parcial e provavelmente ilegal que alimentam um mercado de busca por benefícios penais e manchetes sensacionalistas”..