Brasília e São Paulo, 19 - O Ministério Público Federal desmarcou reunião com o lobista Mauro Marcondes Machado, acusado de "comprar" medidas provisórias no governo federal, na qual seria discutido eventual acordo de delação premiada. O encontro estava agendado para esta terça-feira, 19, na Penitenciária da Papuda, em Brasília, mas a Procuradoria da República no Distrito Federal o cancelou após a defesa do réu denunciar suposta pressão para que ele colaborasse com as investigações da Operação Zelotes.
Como revelou o jornal O Estado de S.Paulo no sábado, 16, Mauro Marcondes recebeu a visita do delegado Marlon Oliveira Cajado, da Polícia Federal, na segunda-feira, 11. O advogado do lobista, Roberto Podval, afirmou que, no encontro, o policial "chantageou" seu cliente para que fizesse a delação. Conforme o defensor, a colaboração foi proposta como uma forma de evitar que a mulher de Marcondes, Cristina Mautoni, passasse da prisão domiciliar para o regime fechado.
Dias depois da visita, a PF e o MPF pediram a transferência de Cristina. A Justiça Federal aceitou o pedido e ela foi detida na última terça-feira, 18, em São Paulo. Assim como o marido, ficará presa em Brasília.
O delegado não se pronunciou sobre as declarações do advogado. O MPF informou que não se manifesta sobre delações premiadas.
Conforme fonte da investigação, a reunião foi desmarcada porque a força-tarefa encarregada da Zelotes entendeu, com base nas declarações do advogado, que a defesa não quer, de fato, a delação. Não há previsão de tratativas nos próximos dias.
Podval informou que, por ora, a defesa vai se concentrar nos depoimentos à Justiça Federal, que começam a ocorrer na próxima sexta-feira, 22. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será um dos inquiridos, na condição de testemunha de um envolvidos, o lobista Alexandre Paes dos Santos.
Mauro e Cristina são réus em ação penal que apura o suposto envolvimento do casal em corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Conforme denúncia oferecida pelo MPF, os dois operaram esquema de pagamento de propina para conseguir a edição, pelo governo, e a aprovação, pelo Congresso, de medidas provisórias que concediam incentivos fiscais a montadoras de veículos. O caso foi revelado pelo jornal O Estado de S.Paulo em outubro.