Esta e outras possíveis falhas técnicas, de acordo com o advogado Josmeyr Oliveira, não foram investigadas de forma aprofundada pelo Cenipa (Centro de Investigacao e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), cujo relatório final destacou a falha humana como causa determinante para o acidente. Apresentado na terça-feira, 19, em Brasília, o documento descartou falhas técnicas e apontou a fadiga, despreparo e desorientação do piloto Marcos Martins e do copiloto Geraldo Magela para realizar manobras de emergência naquele tipo de aeronave.
O documento é considerado "reducionista, negligente e incompleto" pelo advogado. "Faltaram dados para eles criarem paradigmas para dizer o que aconteceu e o que não deveria ter acontecido", disse Oliveira.
Relatório paralelo produzido com o auxílio do perito Carlos Camacho, ex-comandante de aeronaves de grande porte, rebate uma a uma as argumentações do Cenipa, de que os pilotos estariam cansados e despreparados para aquele voo. Segundo Camacho, antes de viajar na manhã de 13 de agosto de 2015, dia do acidente, os pilotos tiveram 34 horas de repouso e estavam preparados. "Eles fizeram 90 missões naquela aeronave antes daquele voo. Mesmo se eles tivessem tido treinamento falho, isso seria compensado pela experiência", disse.
O perito também rechaçou o argumento de que os pilotos tiveram desorientação espacial durante o procedimento de arremeter o avião. "Só quem já teve uma desorientação sabe o que é.
Omissões
O relatório independente aponta ao menos duas omissões no documento do Cenipa: a ausência de uma "reconstituição" do acidente em um simulador de voo e a recusa do órgão em analisar acidentes e incidente ocorridos em aeronaves do modelo semelhante, mesmo depois de esses casos terem sido encaminhados pelos representantes dos pilotos.
Segundo Camacho, há casos antes e depois do acidente de 13 de agosto que apontam para a falha no sensor de velocidade como causa da perda de estabilidade do avião. "Em 2001, na Suíça, os pilotos tiveram altitude suficiente para recuperar o controle da aeronave", disse.
O equipamento é responsável por impedir que procedimentos próprios ao pouso, como o uso de flaps (ferramenta instalada nas asas que permite estabilização da aeronave mesmo em velocidades mais baixas) e estabilizadores, sejam usados em momentos de maior potência do motor. Em caso de uso dos flaps em velocidade acima de 200 nós, o "nariz" do avião tende a apontar para o chão, diz Camacho..