Suspeito de ter intermediado o depósito de 1,3 milhão de francos suíços para conta que tinha como beneficiário Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o economista Felipe Diniz confirmou à Procuradoria-Geral da República (PGR) ter procurado o presidente da Câmara depois de prestar depoimento aos investigadores da Lava-Jato, em outubro de 2015. Em nova oitiva prestada em dezembro, Diniz disse ter ido ao encontro sem avisar ao peemedebista e relatou ter sido mandado embora da residência oficial por Cunha. Felipe Diniz é filho do ex-deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), morto em 2009.
A ida do economista à casa de Cunha após o primeiro depoimento à PGR, de outubro, levantou suspeitas sobre o motivo do encontro entre os dois. Na oitiva, no entanto, Diniz disse ter recorrido a Cunha para tratar de um imbróglio judicial envolvendo pagamento de pensão pela Câmara dos Deputados a uma namorada do seu pai. Segundo relatou à PGR, Diniz foi sozinho à residência oficial do presidente da Câmara e sem comunicar sua ida. O peemedebista questionou o motivo da ida de Felipe Diniz sem prévio aviso.
Diniz afirmou aos investigadores que nem chegou a entrar na casa, "pois Eduardo Cunha disse que seria prejudicial se vissem ambos juntos, pois haveria interpretações variadas". "Que até então o declarante (Diniz) acreditava que não haveria qualquer problema em ir à residência de Eduardo Cunha, pois já havia prestado seu depoimento ao Ministério Público sobre os fatos", consta no relatório do depoimento. Ele deixou o imóvel sem "sequer adentrar ou conversar com o parlamentar sobre outro tema" e afirma não ter tratado sobre seu depoimento no curso das investigações.
O novo depoimento de Diniz foi anexado ao inquérito que investiga as contas internacionais ligadas ao deputado a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Diniz disse que não avisou seus advogados que iria até a residência de Cunha e nega ter tido contato com o peemedebista ou com o lobista João Henriques depois deste fato.
O caso
O empresário João Henriques, lobista ligado ao PMDB, afirmou à Polícia Federal que abriu uma conta na Suíça para pagar propina ao presidente da Câmara. De acordo com Henriques, o repasse foi feito a partir de um pedido de Felipe Diniz. O Ministério Público da Suíça mapeou a origem do dinheiro depositado em uma das quatro contas bancárias do país que têm Cunha como beneficiário. Um dos depósitos, no valor de 1,3 milhão de francos suíços, foi feito a partir de conta identificada como de Henriques.
No depoimento prestado em outubro, Felipe Diniz confirmou que Cunha era um amigo da família, mas negou tratar de negócios com o deputado. Ele disse ainda nunca ter indicado nenhum negócio para João Henriques.
Após a visita de Diniz, em novembro, os advogados de Cunha afirmaram que o deputado foi "surpreendido" com a presença do economista em sua casa. "Por não o ter convidado, e por desconhecer a motivação da sua presença na residência - que aliás causou profunda estranheza - de imediato o informou ser totalmente impertinente a visita. O parlamentar disse a ele, ainda, que caso tivesse algo a dizer, que procurasse seus advogados", consta na nota da defesa de Cunha do ano passado e reiterada hoje..