“A gente só vai conseguir ter o combate e sair vitorioso se a população se engajar. Por mais esforços que façamos, sempre é possível ter água parada que nós não vimos. Daí, quem tem mil olhos? A população. E ela também pode nos ajudar para que a gente, enquanto não temos a vacina, enquanto não podemos fazer um combate mais agressivo a ele (vírus), que a gente tire as condições de reprodução do mosquito”, afirmou Dilma.
Ao voltar da inauguração da Avenida Celso Furtado, conhecida como Via Mangue, no Recife, a presidente já tinha ministros à sua espera, no Alvorada. A força-tarefa convocada ontem tinha os titulares da Saúde, Marcelo Castro; da Integração, Gilberto Ochi; da Educação, Aloizio Mercadante; da Casa Civil, Jaques Wagner; da Defesa, Aldo Rebelo; além do secretário nacional de Defesa Civil, general Adriano Júnior, e do comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas.
Esse batalhão precisa trabalhar em conjunto para conseguir medidas efetivas contra o avanço da proliferação de doenças. Números recentes do Ministério da Saúde revelam o tamanho do problema que o país enfrenta por causa do mosquito. A quantidade de infectados pelo vírus da dengue saltou de 589 mil, em 2014, para 1,6 milhão, em 2015 — um crescimento de 180%.
Descontente com as ações de pouco efetividade do ministro Marcelo Castro, indicado pelo PMDB na reforma feita por Dilma em outubro, o chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, tem trabalhado na articulação de um grupo de apoio ao controle do vírus. Segundo interlocutores, em novembro, o Planalto criou um grupo interministerial para atuar na articulação política do problema. “Existe uma sensação de que o Ministério da Saúde poderia fazer mais “, afirmou uma fonte. Mesmo assim, a execução das ações continua responsabilidade do ministro da Saúde, mesmo não satisfazendo plenamente a presidente.
Folia A proximidade com o carnaval também começa a preocupar o governo. Unidade da Federação com maior índice de casos de microcefalia — é responsável por um terço dos casos (1,3 mil) —, Pernambuco arrasta cada vez mais foliões. Só no Galo da Madrugada, no Recife, em 2015, compareceram 2,5 milhões de pessoas. “Por mais esforço que todos nós façamos, sempre é possível ter água parada. Por isso, enquanto não temos a vacina, temos que destruir as condições de reprodução do mosquito”, frisou essa fonte.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que o valor destinado ao controle do vetor atingiu R$ 924,1 milhões em 2010 e saltou para R$ 1,29 bilhão em 2015, crescimento de 39%. Entre os investimentos, estão inclusos os repasses para estados e municípios, o pagamento dos agentes de endemias, a compra e a distribuição de larvicidas, adulticidas (fumacê) e kits de diagnóstico. Neste ano, a pasta garantiu que o orçamento para o combate será R$ 580 milhões maior, chegando a R$ 1,87 bilhão, e lembrou que já foi aprovado um adicional de R$ 500 milhões como recurso extra, que pode ser utilizado ao longo do ano.
Para o professor Pedro Luiz Tauil, do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade de Brasília (UnB), o aumento da população em áreas urbanas pode explicar os números das doenças causadas pelo Aedes. “Nunca tanta gente viveu em área urbana. No Distrito Federal, é a situação de quase 95% da população. Outra coisa é a complexidade da vida urbana: temos muita gente vivendo em condições precárias de saneamento, sem coleta de dejetos, em casas que facilitam a proliferação do mosquito”, esclareceu.
“As medidas que precisam melhorar mesmo são de saneamento básico, como abastecimento regular de água e coleta de dejetos. Não pode continuar o descarte de pneus, depósitos de carros inclusive do governo, ferros-velhos”, alertou. A educação sanitária – orientações sobre como evitar o criadouro do mosquito e outras tarefas da população – deveria começar desde a escola, defende Tauil. “O governo tem feito, mas não tem valorizado essas ações suficientemente”, lamentou.
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