O delegado Marlon Cajado também quis saber se os valores pagos a Luís Cláudio seriam “em decorrência da elaboração de medidas provisórias por ele, enquanto presidente, ou para influenciar em ‘vetos’ ou ‘não vetos’ a emendas em medidas provisórias”. Lula afirmou que considera essa hipótese “outro absurdo, uma vez que as medidas provisórias seguiram todo o trâmite regular dentro do Poder Executivo e foram aprovadas pelas duas casas do Congresso Nacional”.
A empresa LFT Marketing Esportivo, que pertence a Luís Cláudio Lula da Silva, recebeu pagamentos de R$ 2,5 milhões da Consultoria Marcondes e Mautoni Empreendimentos, do lobista Mauro Marcondes Machado. Ele e a mulher, Cristina Mautoni, estão presos, acusados de operar suposto esquema de pagamento de propina a servidores e autoridades federais para viabilizar medidas provisórias do interesse de montadoras de veículos.
Mauro Marcondes também foi representante do grupo que controla a Saab. Documentos apreendidos pela PF indicam que ele também fez gestões junto ao governo federal pela compra dos caças. Lula foi questionado sobre documentos apreendidos na Marcondes e Mautoni que faziam menção a tratativas com o ex-presidente e o Instituto Lula para favorecer a Saab. Um deles citava uma “solicitação da empresa sueca para que o ex-presidente levasse seu apoio à contratação da Saab para a presidente Dilma (Rousseff)”.
A negociação para a compra dos caças começou no governo Lula e foi concluída na gestão Dilma. Ao fim de seu segundo mandato, em 2010, o ex-presidente declarou que conversaria sobre o assunto com a então presidente eleita. “É uma decisão importante, daquelas que não posso tomar sozinho, faltando um mês e meio para terminar meu mandato, porque é uma decisão do longo prazo.” O ex-presidente afirmou que nunca tratou a respeito com Mauro Marcondes.
conferências O ex-presidente foi questionado pela PF sobre arquivo encontrado no computador da empresa de Marcondes, no qual estava registrado: “A MP foi combinada entre o pessoal da Fiat, o presidente Lula e o governador Eduardo Campos (morto em 2014)”. “Combinação nesse tipo é coisa de bandido”, reagiu Lula, acrescentando que não ocorreu a transação mencionada.
O ex-presidente “afirmou ainda que mesmo após sua saída do cargo público, nunca nem ele nem seus parentes realizaram atividade de lobby ou consultoria empresarial. Disse que fazia questão de informar que realiza conferências no Brasil e no exterior, sempre em defesa do interesse nacional, e que tomou como decisão de honra não interferir na gestão do novo governo”, registrou a PF.
Lula disse acreditar “que Luís Cláudio tenha procurado Mauro Marcondes para obter patrocínio para seu projeto na área de futebol americano” e que, pelo que sabe, o filho foi contratado para estudos “na área do esporte”.
DISPENSA A defesa do ex-presidente entrou com uma petição na Justiça Federal de Brasília para pedir que ele seja dispensado de prestar novo depoimento no processo da Operação Zelotes. O pedido foi acatado pela Justiça no fim da tarde. Os advogados de Lula argumentam que ele já falou à PF, no dia 6, sobre o assunto.
Pena de 2 mil anos
Coordenador da força-tarefa que investiga a Operação Lava-Jato, o procurador Deltan Dallagnol afirmou ontem que, se somados os crimes em série atribuídos ao empreiteiro Marcelo Odebrecht, dono da empreiteira que leva seu sobrenome, a pena atribuída a ele poderia passar dos 2 mil anos de reclusão. Mas, como no sistema penal brasileiro crimes semelhantes não acumulam penas, a expectativa da Procuradoria é que o empresário seja condenado a “menos de 100 anos de prisão”. “Se formos somar as penas de todos os crimes em série, por incrível que pareça, as penas somariam de 2 mil anos de prisão”, disse o procurador em entrevista à rádio Bandnews FM. “Mas, quando aplicamos a regra de crimes continuados, porque a pessoa cometeu uma série de crimes em sequência, a pena vai para muito menos que isso. A expectativa é de uma pena inferior a 100 anos de prisão. Estamos fazendo nossas alegações finais e avaliando isso”, afirmou.