Vereadores veteranos de Belo Horizonte anunciam que não vão concorrer à eleição

Desconforto, desilusão com as práticas e comodismo são algumas das justificativas

Flávia Ayer

Gomes: "Com o tempo, você vai se acomodando. Política é para quem tem disposição" - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press 26/12/2012
Os dois veteranos da Câmara Municipal de Belo Horizonte se despedem do Legislativo este ano.

Os vereadores Ronaldo Gontijo (PPS) e Alexandre Gomes (PSB), mais antigos na Casa, decidiram que não disputarão as eleições de outubro e encerrarão a carreira como parlamentar. Ambos fazem parte da composição da Câmara, que tem 41 cadeiras, desde 1993 e, em dezembro, chegarão ao fim do sexto mandato.

A partir do ano que vem, Alexandre Gomes, que é médico, não vai mais seguir na política. Ele se dedicará ao consultório e à clínica, onde atua como clínico geral. Depois de 24 anos de vida pública, Gomes avalia que já deu sua contribuição. “Aquilo que tentei realizar, já realizei. A política é para quem tem disposição. Com o tempo, você vai se acomodando.
Acho que o país precisa de pessoas mais idealistas”, afirma.

Segundo Gomes, por duas vezes ele hesitou em ser candidato, mas acabou convencido do contrário. “Já cedi duas vezes, agora, por uma decisão pessoal e familiar, o sétimo mandato não virá”, ressalta. E ele não pretende dar sequência à carreira política. “Não quero direção de partido, não quero cargo, tenho uma vida própria”, afirma o parlamentar.

Com a atuação voltada para a área da saúde, o vereador ocupou por duas vezes a vice-presidência da Câmara e já esteve em meio a diversas polêmicas. Em 2013, ele desagradou ao prefeito Márcio Lacerda (PSB) ao não votar na eleição da Mesa Diretora. Lacerda entendeu como apoio à reeleição de Léo Burguês (PSL), sendo que seu candidato era Henrique Braga (PSDB). Na época, Gomes afirmou que estava fora do espaço do plenário na hora da votação. Depois do episódio, chegou a se posicionar que queria deixar o partido, mas não podia.

Gontijo: "A política está desgastada. Ser um despachante de elite não me interessa" - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press 1/112013Sufocado A despedida do vereador Ronaldo Gontijo da Câmara foi motivada por um sentimento de que não está adequado ao atual modelo político. “Já tomei a decisão. Não vou me candidatar. O atual modelo político que procura legislar está sendo sufocado. Não vemos debate na cidade sobre nenhum tema. Ser um despachante de elite não me interessa”, afirma Gontijo.

Ele também critica o grande número de partidos – atualmente, são 35.
“Não se consegue fazer uma base consistente. Na Câmara, a base do prefeito é clara? Lógico que não. Não estou querendo mais ser vereador”, diz Gontijo, eleito no último mandato com 7,2 mil votos. “A política também está muito desgastada. Quem está com mandato está mais queimado do que quem está de fora. A (operação) Lava-Jato, em Brasília, respinga em todo mundo”, diz.

Mas Gontijo, que é presidente municipal do PPS, não vai deixar a política. Este ano, ele vai mergulhar de cabeça nas eleições, desta vez como coordenador de campanha do partido. Também vai reforçar sua atuação como fisioterapeuta e professor da rede municipal e do Serviço Social da Indústria (Sesi). Gontijo ressalta, entretanto, que, antes de concluir o mandato ainda há muito serviço pela frente. “Este ano tem alguns projetos que precisam ser votados, como o Plano Diretor”, diz.

Além de Alexandre Gomes e Ronaldo Gontijo, é possível que outros também não disputem as eleições para vereador este ano.
É o caso de Daniel Nepomuceno (PSB), que ocupa também a presidência do Atlético Mineiro. Se inicialmente, ele pensava em se dedicar apenas ao Galo, agora, Nepomuceno faz parte dos planos do partido para composições na chapa a prefeituras da região metropolitana.

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