Brasília – A Polícia Federal, que teve corte de R$ 133 milhões no orçamento deste ano, gastou em metade das fases da Operação Lava-Jato – cujo efetivo empregado foi informado oficialmente pela corporação – entre R$ 1,5 milhão e R$ 1,8 milhão para prender 53 suspeitos preventivamente, 58 temporariamente e conduzir 98 pessoas coercitivamente. Os cálculos foram feitos com base em estimativas da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef). Na conta não entram as despesas com investigação. Em 17 de março de 2014, por exemplo, na 1ª fase, foram consumidos entre R$ 320 mil e R$ 400 mil.
As estimativas indicam que uma saída de dezenas ou centenas de agentes e delegados pelas ruas do Brasil atrás da prisão de suspeitos e da apreensão de documentos, telefones e computadores custa, em média, de R$ 125 mil a R$ 156 mil. Com isso, a Lava-Jato teria custado até agora entre R$ 2,62 milhões e R$ 3,27 milhões. Em contrapartida, a operação já recuperou cerca de R$ 2,4 bilhões de dinheiro desviado nos casos de corrupção na Petrobras.
A Polícia Federal não informa oficialmente o valor dos gastos pela dificuldade de levantamento dos dados. Fontes ouvidas pelo Estado de Minas esclareceram que há diversos gastos relacionados a uma ou mais operações contabilizados em setores diferentes do órgão, o que dificulta consolidar os custos. O temor da polícia é de que o corte no orçamento atrapalhe as apurações.
Segundo o vice-presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) e presidente do Sindicato dos Policiais Federais em Brasília, Flávio Werneck, o custo mínimo de uma operação com 100 homens gira entre R$ 80 mil e R$ 100 mil. Só com diárias são cerca de R$ 22 mil. Materiais custam R$ 3 mil aproximadamente. Aluguel de viaturas descaracterizadas consome R$ 25 mil. Despesas com combustível, incluindo gasolina para aviões, e o deslocamento de pilotos completam a planilha de gastos de uma ação coordenada com o objetivo de surpreender os suspeitos dos crimes investigados e impedir a continuidade dos delitos e a destruição das provas. Os valores não incluem despesas com membros da Receita Federal e do Ministério Público, que costumam participar da execução das operações.
A Lava-Jato teve 21 fases na Justiça de 1ª Instância e mais três no Supremo Tribunal Federal (STF). Não foi possível estimar com precisão as despesas em 12 fases, em que o número de policiais federais não foi informado oficialmente. Isso inclui a prisão do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró em janeiro do ano passado, a detenção do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) em novembro, a Operação Politeia, que fez buscas em endereços dos senadores Fernando Collor (PTB-AL) e Ciro Nogueira (PP-AL), e a fase Catilinárias, que atingiu figuras como o ministro Henrique Alves (Turismo) e o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Mais cara
Levando em consideração os cálculos da Fenapef, a primeira fase da Lava-Jato teve o maior gasto. Em 17 de março de 2014, foram despendidos entre R$ 320 mil e R$ 400 mil — o maior efetivo já empregado até agora. Nesse dia, 400 policiais federais cumpriram 128 mandados judiciais. Foram 81 ordens de busca e apreensão, 28 de prisão preventiva, 18 de detenção temporária e 19 para conduzirem suspeitos a prestar depoimento.
Conflito
Policiais federais e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, entraram em conflito no início deste ano após o anúncio de corte no orçamento. Policiais classificaram os ajustes de “desmonte da instituição”. O momento mais crítico ocorreu após a divulgação de que investigadores da Lava-Jato tinham pedido ajuda ao juiz federal Sérgio Moro para o pagamento de consertos de viaturas e contas de energia da Superintendência da PF em Curitiba. Moro chegou a autorizar a liberação de R$ 172 mil que tinham sido recuperados pela Justiça. .