Na noite de 30 de julho de 2015, a sede do Instituto Lula, em São Paulo, foi alvo de um atentado a bomba, até hoje não esclarecido pela polícia. No dia seguinte, no celular do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu (Governo Lula), piscou a mensagem: "Falei com Rui, propus que tocássemos o rebu. Ele acha que devemos reagir com perfil baixo… inacreditável".
O interlocutor de Dirceu era o jornalista Breno Altman, amigo do ex-ministro e um dos principais pensadores do PT. Seu nome foi citado pelo doleiro Alberto Youssef como um dos nomes envolvidos na suposta operação de repasse de R$ 6 milhões, em 2004, para um empresário de Santo André (SP), para que quadros importantes da cúpula do PT - entre eles o próprio Dirceu - não fossem envolvidos publicamente no assassinato do prefeito da cidade Celso Daniel (PT), crime ocorrido em janeiro de 2002.
Quatro dias depois da troca de mensagens, em 3 de agosto de 2015, Dirceu foi preso preventivamente pela Polícia Federal, como alvo central da Operação Pixuleco, 17ª fase da Lava Jato. O ex-ministro está detido até hoje, réu em ação penal por corrupção passiva e lavagem de dinheiro supostamente desviado de contratos da Petrobras entre 2004 e 2014.
Por ordem do juiz federal Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato em primeira instância, José Dirceu teve seu aparelho celular confiscado e as mensagens nele contidas recuperadas pelos peritos da PF. Foi a partir dessa análise que os federais remontaram as trocas de mensagens do dia seguinte do ataque ao Instituto Lula, sediado no bairro Ipiranga, em São Paulo. Os investigadores descobriram, então, a tática de comunicação empreendida pelo ex-ministro.
A primeira mensagem de Dirceu para Altman é das 15h37. Via Whats’App, ele questiona o amigo: "Soube do ataque ao IL (Instituto Lula) ontem?".
Reproduzindo informações que acabara de receber de seu assessor de imprensa, Dirceu detalha o ataque: "E tinha uns caras com pinta de black blocs na redondeza. Havia o boato de fazer uma manifestação contra o presidente". Dirceu pergunta a Altman: "Qual sua avaliação?". E o interlocutor pede que o ex-ministro ligue para ele.
Politizar
No mesmo período - entre 15h e 17h do dia 31 - em que Dirceu conversa com Altman, ele troca mensagens com seu assessor de imprensa Ednilson Machado, conhecido com Edi. O assunto também foi o ataque a Instituto Lula.
Depois de copiar e encaminhar ao interlocutor a resposta de Altman sobre a "conversa com Rui" e a tática de "tocar o rebu", Dirceu determina: "Fale lá tem que ir para cima".
Edi responde às 16h51. "Já mandei mensagem para o (Paulo) Okamotto (presidente do Instituto Lula). Lamentável perfil baixo a essa altura."
Passados quatro minutos, o assessor do ex-ministro acrescenta: "Era hora de politizar e creditar à inflamação pública que o PSDB passou a fazer para o dia 16", em alusão a um protesto marcado contra o governo Dilma Rousseff, no dia 16 de agosto de 2015.
O atentado não deixou feridos. Artefato explosivo foi atirado contra a sede do instituto do ex-presidente; episódio foi flagrado pelas câmeras de segurança. As imagens revelam como foi o ataque à sede da instituição ocorrido na noite de 30 de julho, uma quinta-feira. A bomba foi atirada de um carro em movimento.
Na ocasião, o Instituto Lula divulgou nota por meio da qual destacou que "esperava que os responsáveis sejam identificados e punidos". Ninguém foi preso.
Relatório de análise da PF diz que a mensagem revela "tática questionável".
Artigos
No dia 1º de agosto, dois dias antes de ser preso pela Lava Jato, Dirceu e interlocutores trocam novas mensagens e textos sobre a explosão no Instituto Lula. Um desses textos do próprio jornalista Breno Altman.
No mesmo dia, Dirceu orienta uma jornalista que foi do setor de comunicação do PT a publicar artigos no blog mantido pelo ex-ministro. "Percebe-se que Dirceu ainda possui grande poder de articulação política e de influência, inclusive através dos meios de comunicação de massa", registra relatório da PF.
Poder
A Lava Jato atribui a Dirceu o papel de um dos cabeças do núcleo político no esquema que fatiava obras na Petrobras, em conluio com um cartel de empreiteiras. O esquema, que teria sido sistematizado a partir do governo Lula, tinha como objetivo garantir a governabilidade e a permanência no poder, sustenta a força-tarefa da Lava Jato. Bilhões em propina teriam sido arrecadados, bancando os cofres de campanhas e de partidos da base e da oposição.
O Ministério Público Federal reúne elementos para apontar que o ex-ministro, mesmo depois de preso e condenado no mensalão, passou a usar "recursos ilícitos" para custear uma operação de propaganda política para levantar sua imagem.
A análise de mensagens, reunida no Relatório de Informação 491/2015, da PF, reforça essa frente. "Tais trechos (de mensagens) corroboram com a tese de que Dirceu ainda exerce forte influência no cenário político brasileiro, inclusive, através do controle midiático", informa o relatório.
Dirceu tem negado, veementemente, envolvimento em qualquer tipo de irregularidade. O ex-assessor de Dirceu diz não ter nada a declarar.
Defesa
O jornalista Breno Altman afirmou que "trata-se de uma conversar trivial entre dois amigos com longa história de militância política comum". "Somos dois amigos e companheiros que se conhecem há muitos anos, conversando sobre um fato político relevante.".