Quito - A presidente Dilma Rousseff disse nessa terça-feira, 26, que o Brasil não conseguirá retomar o crescimento se os demais países da América Latina não se recuperarem. Em reunião de trabalho com o presidente do Equador, Rafael Correa, Dilma afirmou ser preciso "harmonizar as diferenças" para que os países da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) saiam da crise em conjunto.
"Não haverá uma América Latina forte, e nós temos muito consciência de que o Brasil não retoma sua capacidade de crescer (…), não consegue restabelecer suas condições sustentáveis de crescimento nesse novo contexto internacional sem o crescimento dos demais países da América Latina, sem que os países da América Latina tenham também condição de se recuperar", disse a presidente a Correa, ao pregar a unidade do bloco.
Dilma assinalou que a integração econômica é "crucial e estratégica" para os 33 países que compõem a Celac. "Enfrentamos uma situação bastante adversa no cenário internacional, com queda do preço do petróleo e das demais commodities. E assistimos uma desaceleração da segunda maior economia", argumentou ela, numa referência à China.
Dilma mencionou que a forte valorização do dólar afeta as economias da região. "Nós tivemos uma desvalorização significativa na metade do primeiro governo: o dólar correspondia a um e meio real. Hoje está um dólar para quatro reais", afirmou. "Nós iremos enfrentar essa conjuntura. Mas é claro que isso só pode ser feito se todos os países tiverem condição também de se adaptar."
Sem mencionar a crise que atinge a Venezuela, Dilma citou um tema que fará parte da declaração política da Celac: a democracia. "Somos países que respeitamos a democracia, respeitamos os direitos humanos e sabemos que isso é um valor fundamental", insistiu. Na conversa com Correa, Dilma também elogiou a Agenda 2020 proposta pelo colega equatoriano, com metas para a redução da pobreza e da desigualdade, educação e mudanças climáticas.
No entanto, pouco antes, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que essa agenda não era consenso na Celac. "Já existe uma agenda 2030 das Nações Unidas. Então, não faz sentido criar uma nova, com padrões próprios e mecanismos específicos para a região", argumentou. "Vamos aproveitar o que já existe e trazer para o nosso convívio."
Crise
Vieira também tentou ontem reduzir a tensão entre Venezuela e Argentina e disse ter certeza de que o tema não roubará a cena na 4.ª Cúpula da Celac, que será aberta oficialmente hoje em Quito.
"Tenho certeza de que o objetivo maior da Celac, que é a integração, vai se sobrepor a qualquer diferença", afirmou. "A Celac existe para criar consensos e concertação entre os países. Os temas são todos debatidos com muita clareza, transparência e espontaneidade."
Mesmo sem mencionar claramente a questão da Venezuela, no entanto, a Declaração Política da Celac terá um parágrafo em que os integrantes do bloco reforçam a defesa das regras democráticas.
"Os governos de direita que existem na América Latina estão se levantando contra a revolução bolivariana", disse o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciando a disposição de discutir com a Argentina na Celac. Em dezembro, o presidente argentino, Mauricio Macri cobrou da chanceler da Venezuela, Delcy Rodríguez, que libertasse os opositores considerados presos políticos.