'Os seus pecados Zé Dirceu admitiu', diz advogado sobre depoimento a Moro

Ex-chefe da Casa Civil participou de audiência com o juiz federal e, segundo seu defensor, respondeu todos os questionamento e admitiu suas culpas

O ex-chefe da Casa Civil José Dirceu "admitiu suas culpas" em depoimento na tarde desta sexta-feira, ao juiz federal Sérgio Moro.
A afirmação foi feita pelo advogado do ex-ministro, Roberto Podval, após o testemunho. Réu em ação penal por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, Dirceu está preso desde 3 de agosto.

Nesta sexta-feira, ele ficou frente a frente com o juiz que mandou prendê-lo. Respondeu a todas as perguntas na audiência, segundo o defensor. "Esclareceu tudo, disse que é verdade que o Milton Pascowitch (lobista e delator) pagou a reforma do seu apartamento e da sua casa", contou Podval.

"Os seus pecados, o Zé Dirceu admitiu", afirmou o criminalista, referindo-se ao relato do ex-ministro a Moro. "Tentou ser o mais claro possível, o mais correto possível. É só olhar as propriedades, o dinheiro que ele (Dirceu) tem para saber qual é a verdade disso. Muitos delatores devolveram muito dinheiro, R$ 80 milhões, ficaram com R$ 40 (milhões), estão soltos e dando risada por aí.
O Zé está preso."

Podval disse: "O Zé Dirceu admitiu que fez negócio, que permitiu que o Milton Pascowitch pagasse a reforma do apartamento e da casa. Ele disse. 'Isso era uma coisa minha com Milton, eu iria pagar o Milton.' Imagino que o Pascowitch se aproveitou da situação e 'vendeu' o Zé. O Zé sempre permitiu ser usado por terceiros que ganharam milhões às custas do Zé. Estão rindo aí, andando por aí, e o Zé Dirceu preso. É ridículo."

Dirceu negou ter indicado o engenheiro Renato Duque para a Diretoria de Serviços da Petrobras, disse o advogado. Duque, apontado como cota do PT na estatal, também é réu da Lava-Jato porque sob seu controle teria operado um dos principais focos de corrupção na petrolífera.

José Dirceu disse, segundo seu advogado: "Não indiquei Renato Duque, eu não o conhecia, não o conhecia antes desses fatos (investigação da Lava-Jato). Havia um pedido do PSDB (para uma diretoria da estatal), uma indicação absolutamente legítima. Eu já tinha uma indicação do PSDB por conta de Furnas e havia uma outra pessoa indicada pelo PT. Eu preferi indicar porque já tinha PSDB para Furnas. Eu não tinha nenhum interesse pessoal com Renato Duque. Como ministro da Casa Civil, assinei. A última palavra era minha para todas as pessoas, todos os ministérios.
Eu não tiro a minha responsabilidade."

O ex-ministro declarou na audiência, segundo o relato de seu advogado: "O que me chegou é que havia uma disputa entre duas pessoas, uma apoiada legitimamente pelo PSDB e a outra pelo PT. Minha escolha foi a indicada pelo PT. Tinha duas pessoas. Eu vou optar por escolher o do PT porque alguém já havia sido indicado pelo PSDB. A demanda chegou para mim e eu decidi assim. Renato Duque não era amigo meu, eu nunca tinha visto, não sabia quem era."

Dirceu admitiu também ter usado um jatinho de outro lobista e delator, Julio Camargo, afirmou Podval. Segundo o advogado, o ex-chefe a Casa Civil falou: "Os aviões me foram cedidos. A vida inteira me foram cedidos. Foram cedidos por ele (Júlio Camargo), foram cedidos por outros. Eu sempre voei e sempre me deram."

Podval disse: "Ou seja, nunca ninguém escondeu isso.
Até então era bacana ser amigo do Zé Dirceu. Era bacana oferecer o avião para o Zé Dirceu. Claro, nas costas dele estavam ganhando dinheiro em cima disso.".