Brasília – A oposição e aliados de Luiz Inácio Lula da Silva subiram o tom diante de novas suspeitas levantadas sobre negócio que envolveria o ex-presidente e a construtora OAS em torno do triplex 164-A do condomínio Solaris, no Guarujá (SP). Termos de adesão para a compra de apartamentos no empreendimento divulgados ontem mostram que os compradores sabiam já no ato de assinatura do documento qual unidade estavam adquirindo, o que contrasta com a defesa apresentada pelo casal. A compra de um barco feita por Marisa e entregue em um sítio na cidade de Atibaia (SP) começa a mostrar suposto elo da família com o local, também alvo de investigação. O filho de Lula, Fábio Luís, defendeu o pai nas redes sociais. Lula e a mulher foram intimados a depor para explicar as denúncias em 17 de fevereiro.
Diante da suspeita da Promotoria Criminal de São Paulo, de que Lula e Marisa teriam ocultado a propriedade do triplex 164-A, a defesa do casal alegou que eles haviam obtido apenas uma “cota de participação referente a um apartamento”, o que não significa ser dono do imóvel. À Justiça, um zelador, um porteiro e um sócio da OAS afirmaram que Lula, a mulher e o filho Fábio Luís visitaram o apartamento com o ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro, condenado a 16 anos de prisão por corrupção em contratos da Petrobras. A empresa teria pago por uma reforma no imóvel.
Após o empreendimento ser transferido da Bancoop para a OAS, mudanças no pagamento revoltaram proprietários que moveram uma série de ações na Justiça, procedimento que não foi adotado por Marisa na Justiça de São Paulo. A defesa do casal afirma também que ele teria optado por pedir a devolução do dinheiro no ano passado. Essa possibilidade, porém, só poderia ser acionada até 8 de novembro de 2009. Fábio Luís foi às redes sociais para defender o pai e criticar as investigações, bem com a cobertura da imprensa. Ele compartilhou ontem diversas mensagens que sugerem a espetacularização da operação.
Amigos
Além do sítio, negociações envolvendo um pequeno barco também reforçam os lanços de Lula com um sítio em Atibaia (SP). O imóvel recebeu uma compra feita pela mulher de Lula, Marisa Letícia. O casal é suspeito de ocultar, na declaração de bens, a propriedade alvo de reformas pela OAS e pela Odebrecht. Marisa adquiriu um barco e mandou entregá-lo na propriedade. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, na nota fiscal entregue pela fabricante do barco consta que a compra do barco foi em 27 de setembro de 2013, por R$ 4.126. A embarcação modelo Squalus 600, da marca Levefort, é de alumínio, tem seis metros de comprimento, capacidade para cinco pessoas e funciona sem motor.
A aquisição reforça o elo do ex-presidente do local, admitido pelo próprio Instituto Lula em nota divulgada na sexta-feira. “Desde que encerrou o segundo mandato no governo federal, em 2011, o ex-presidente Lula frequenta, em dias de descanso, um sítio de propriedade de amigos da família na cidade de Atibaia”, diz a nota. Os donos do sítio são Fernando Bittar e Jonas Leite Suassuna Filho, sócios de Fábio Luís, filho de Lula. Já Fernando é filho de Jacó Bittar, um dos melhores amigos do ex-presidente e um dos fundadores do PT.
O líder do DEM na Câmara dos Deputados, Pauderney Avelino (AM), afirma que se Lula não fosse o proprietário do imóvel seria simples de comprovar. “É muito difícil provar que não são donos do sítio em Atibaia e do triplex. Então, é melhor parar com o discurso de vítima”, disse. Pauderney disse que o partido buscará reforçar a ação da Polícia Federal, da Justiça e do Ministério Público. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse Lula era “o retrato do PT, partido envolvido em corrupção”.
A reforma na propriedade rural foi coordenada pelo engenheiro da empresa Frederico Barbosa. Ele afirmou ter participado das obras em “caráter informal”, sem representar oficialmente a construtora. A Odebretch teria gasto ao menos R$ 500 mil na obra, segundo a reportagem.