A alguns destes interlocutores Lula explicou o motivo da fixação com a economia. Ciente dos danos que as suspeitas de envolvimento com empresas investigadas na Lava Jato têm causado à sua imagem, o petista só vê chance de recuperar a reputação em curto ou médio prazo se Dilma corrigir o rumo da economia e chegar ao fim de seu mandato com índices razoáveis de aprovação. Nas palavras de um aliado, Lula agora está nas mãos da Dilma.
O entorno de Lula avalia que tanto o ex-presidente quanto o PT estão de mãos atadas diante da ofensiva da Lava Jato e do MP paulista contra o petista. A decisão de abrir mão do tríplex no Guarujá seguiu orientações jurídicas e, no entender de assessores do ex-presidente, é absolutamente legal.
O PT, por sua vez, não pode fazer mais do que manifestar publicamente solidariedade ao ex-presidente diante do que considera como agressões, mas não tem poder real para interferir no processo. Na reunião da Executiva do partido na última terça-feira, em Brasília, um grupo de dirigentes defendeu uma resolução política que trouxesse uma defesa explícita de Lula, mas o próprio ex-presidente abriu mão. O desagravo deve ficar para o aniversário do PT, nos dias 26 e 27 de fevereiro, no Rio de Janeiro.
Aliados ofereceram a Lula uma série de alternativas de defesa que passavam de alguma forma pelo Palácio do Planalto. Lula recusou.
Embora tentem passar uma impressão de segurança jurídica em relação ao apartamento do Guarujá, auxiliares do ex-presidente começaram a dar sinais de dúvida na última semana. Aqueles que até a semana passada classificavam as acusações contra Lula de tentativas de criminalizá-lo politicamente, hoje usam a expressão criminalização jurídica.
Aliados de Lula empenhados em reverter a situação esbarram em outra barreira: tanto o apartamento do Guarujá quanto o sítio usado pelo petista em Atibaia, cuja reforma teria sido paga pela Odebrecht, são assuntos estritamente pessoais, que nada tem a ver com questões partidárias ou governamentais como foi, por exemplo, o mensalão. Isso aumenta a dificuldade para abordar os temas.
Zelotes
- Esse ponto fica ainda mais complicado quando se trata das investigações da Operação Zelotes contra Luís Cláudio, filho caçula do petista, cuja empresa, a LFT Marketing Esportivo, recebeu R$ 2,5 milhões da Marcondes & Mautoni, empresa investigada por fazer lobby pela suposta compra de uma medida provisória no governo Lula.
O ex-presidente evita o assunto até com auxiliares mais próximos e poucos ousam questioná-lo sobre o tema. No PT, prevalece a versão de que Lula não sabia do contrato e entregou o filho à própria sorte.
Recentemente, um aliado próximo de Lula esteve com Mauro Marcondes, dono da Marcondes & Mautoni, para levantar informações. O empresário garantiu que jamais conversou com o ex-presidente sobre a contratação da empresa de Luís Cláudio.
Mesmo assim, a legião de políticos que gravita em torno de Lula se sente no escuro e imobilizada enquanto vê o cerco se fechar em torno do principal símbolo do PT.
Pesquisas internas do partido deixam clara a erosão provocada pelas denúncias na imagem de Lula. Mas também mostram que frases infelizes do ex-presidente como não tem uma viva alma mais honesta do que eu e, principalmente, o mau desempenho do governo Dilma Rousseff têm efeito igual ou pior do que as denúncias.
Apesar da avalanche de acusações, o entorno de Lula mantém a confiança de que, ao cabo das investigações, o petista sairá limpo. Com isso, parte da erosão seria estancada. O mesmo otimismo não se repete quanto ao governo. Lula e boa parte do PT admitem em conversas reservadas que Dilma não aprendeu a governar e ainda age como ministra.
Por isso a fixação do ex-presidente com a reunião do Conselhão de sexta-feira. Para Lula, seria a chance de Dilma para dar uma guinada na política econômica e aproveitar o arrefecimento do pedido de impeachment para tirar o governo do atoleiro e chegar em 2018 em condições de permitir a Lula possibilidades de voltar ao Palácio do Planalto. Em conversa recente, o petista teria dito a Dilma que ela precisa ser a presidente e não a ministra. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo..