Relatório policial mostra que ele mantinha sucessivos contatos ao celular, de seu próprio gabinete, com integrantes da organização sob suspeita de fraudar licitações e superfaturar produtos agrícolas e suco de laranja destinados à merenda escolar da rede pública.
Um dia antes de a Alba Branca ser deflagrada, em 19 de janeiro, Santos foi demitido do cargo de confiança que ocupava. O secretário Edson Aparecido o devolveu à função de origem na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
Boa parte dos grampos flagra o ex-chefe de gabinete orientando o lobista Marcel Ferreira Júlio, apontado como operador de propinas da organização que se infiltrou em pelo menos 22 prefeituras paulistas e mirava em contratos da Secretaria da Educação do Estado. Ele fala sempre de um celular e diz que está "no Palácio".
O dossiê da Alba Branca indica o campo de ação do investigado. Segundo as investigações, Santos age diretamente para atender os interesses da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), apontada como carro-chefe da fraude.
O presidente da Coaf, Cassio Chebabi, confessou à Polícia e ao Ministério Público como era o trabalho de "cooptação" de gestores municipais e que as propinas pagas eram equivalentes a 10% sobre o valor dos contratos. Segundo ele, "quando a Coaf atrasava (as comissões), devido a dificuldades financeiras, eram feitas retaliações e ameaças".
"As apurações demonstraram que Marcel trabalhou em duas frentes para a Coaf. A primeira, num contrato firmado com a Secretaria de Educação do Estado, onde aparentemente se deu a participação de ‘Moita’, e a segunda, em contratos firmados com Prefeituras", afirma o relatório policial.
Escutas
Numa interceptação de 4 de dezembro do ano passado, o então assessor de Edson Aparecido sugere a Ferreira Júlio que ele peça o reequilíbrio financeiro de contrato de merenda, e não aditamento. Santos contou que tinha falado antes com Fernando Padula, na época chefe de gabinete da Educação, de quem disse ter recebido a orientação.
"As interceptações trouxeram a lume a participação no esquema dos indivíduos apontados como 'Moita' e 'Alex'", destaca o inquérito. "Marcel menciona mais de uma vez que Alex, que seria da executiva do PMDB, iria fazer o primeiro contato com prefeitos para depois a prefeitura ser visitada pelos vendedores da Coaf. A partir daí, o órgão público é visitado, já com a proposta da comissão, negociada de acordo com o valor do contrato pactuado." O relatório assinala que "os valores enviados em espécie para Marcel pelo vendedor César (Bertholino, também investigado no caso) se deu em razão do contrato firmado entre a Coaf e a Secretaria de Educação".
O documento, de 7 de janeiro, é subscrito pelos delegados de polícia Mário José Gonçalves, presidente do inquérito, Paulo Roberto Montelli e João Vitor Silvério.
"Sobre este tema o investigado Marcel se refere diretamente ao indivíduo apontado como 'Moita' e conversa com ele sobre o assunto. As informações trazidas por eles mesmos nas conversas se trata de Luiz Roberto dos Santos, atual chefe de Gabinete da Casa Civil de São Paulo, conhecido também por 'Luiz Moita', o qual demonstra nas conversas interceptadas saber e interferir nos assuntos de interesse da Coaf e que estaria agindo diretamente num contrato da cooperativa com o Estado, cujo reajuste de preço deveria ser tratado como reequilíbrio financeiro", continua o documento.
Segundo a Polícia, os grampos "demonstram que Moita mostra claramente estar íntimo de César e que se imiscui, profundamente, nos assuntos da Coaf".
Procurado, o ex-chefe de gabinete da Casa Civil do governo Alckmin Luiz Roberto dos Santos não retornou contatos da reportagem. Os outros citados não foram localizados.
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