O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu disse ao juiz federal Sérgio Moro, da Lava-Jato, que construiu sua casa no município de Vinhedo, interior de São Paulo, com 'poupança' que alega ter feito do dinheiro que recebeu 'da anistia, do salário de funcionário da Assembleia Legislativa de São Paulo, de deputado ou de presidente do PT'. "Não tive outra renda, a não ser das sessões extraordinárias no Congresso e da rescisão contratual que fiz com a presidência do PT", afirmou durante o longo interrogatório a que foi submetido por Moro na sexta-feira.
"Não vamos esquecer que o sr. Gustavo Franco (presidente do Banco Central no governo FHC) pagou 27,5% de juro real durante três anos aos poupadores desse País, portanto meu patrimônio dobrou nesses três anos”, declarou Dirceu, preso desde 3 de agosto na Operação Pixuleco, desdobramento da Lava-Jato.
Na audiência, a primeira pergunta do magistrado foi sobre o patrimônio que Dirceu possui. O ex-ministro relatou os imóveis que comprou. "Eu tenho em Vinhedo (interior de São Paulo) uma residência na rua Maracaí, condomínio Santa Fé. Comprei o terreno no ano de 2000, construí a casa durante quatro anos com recurso que eu recebi da anistia, das sessões extraordinárias do Congresso, da venda de parte da propriedade da minha esposa e do acordo salarial, rescisão contratual que fiz com a presidência do PT."
Atestado de idoneidade
Dirceu disse que recebeu um atestado de idoneidade do Fisco. "Essa residência sofreu uma devassa da Receita na Ação Penal 470 (Mensalão) e todo o meu imposto de renda anterior de cinco anos recebeu atestado de honestidade até 2006, doutor Moro."
Descreveu o financiamento de um imóvel na Avenida República do Líbano, em São Paulo, pelo qual ainda lhe resta uma dívida de R$ 1 milhão.
O juiz pediu detalhes sobre cada item acrescido ao patrimônio do acusado. "Não tem problema, fique à vontade, vim aqui prestar esclarecimentos à Justiça."
Diante de contradições acerca do valor de um outro imóvel, na Alameda Xingu, também em Vinhedo, o ex-ministro lamentou o fato de estar na cadeia e não poder verificar os dados pessoalmente - ele disse que comprou a casa por 'duzentos e tantos mil reais', mas a denúncia da Procuradoria da República afirma que o montante ultrapassou R$ 500 mil.
Nome e prestígio
O ex-ministro da Casa Civil afirmou ao juiz federal Sérgio Moro que atuava para abrir mercados para empreiteiras em países como Cuba, México e Peru e que seus trabalho como consultor foi legal e não visava o enriquecimento. "Eu emprestava meu nome, meu prestígio, e orientava essas empresas. Eu não fazia um trabalho que consultor faz de cavar uma licitação, cavar um contrato", explicou Dirceu.
"A realidade é que eu tenho uma história, doutor Moro", afirmou Dirceu, sobre sua atuação em nome de empresas. O juiz federal da Lava Jato quis saber se o que ele fazia após deixar o governo "era uma espécie de lobby". "Todas as minhas atividades são públicas, eu dei consultoria publicamente no Brasil e nesses países."
O ex-ministro disse que não prestou serviços de consultoria para se enriquecer. "Eu fazia o que se faz para abrir mercados para o Brasil eu entendia que eu estava fazendo consultoria, ganhando para me defender, fazer meu blog, viajar pelo País. Eu não estava me enriquecendo, não tinha esse objetivo."
Moro pediu detalhes sobre relatórios dos serviços prestados e prestações de contas para as empreiteiras contratadas, entre elas a Engevix, que tem dois executivos como réus na ação penal por suposto pagamento de propina ao ex-ministro via lobista Milton Pascowitch.
"Não vou dizer para o senhor que eu fazia relatórios, que eu dava um tipo de consultoria que eu não dava, porque eu vou faltar com a verdade, fazer um falso testemunho para o senhor", afirmou Dirceu..