Brasília, 02 - A empresária Cristina Mautoni afirmou à Justiça Federal, nesta terça-feira, 2, que a consultoria Marcondes & Mautoni "nunca fez pagamento de R$ 4 milhões ao PT", conforme indicam documentos apreendidos pela Operação Zelotes que investiga suposto esquema de lobby para compra de medidas provisórias operado por um grupo de empresas. Cristina e o marido Mauro Marcondes estão presos em Brasília desde o final do ano passado.
"Eu nunca paguei R$ 4 milhões ao PT. Todos os pagamentos que ele (Mauro) me mandava fazer eram sempre transferência eletrônica ou deposito bancário. Ele não me pedia para pagar em dinheiro. Se ele me pedisse eu largaria ele na hora. Se eu desconfiasse de alguma coisa eu teria encerrado naquele momento meu relacionamento", afirmou.
A cifra apareceu em vários documentos apreendidos na Operação Zelotes. O considerado mais importante é um e-mail que revelou aos investigadores uma chantagem feita pelo grupo de lobistas para que a CAOA, que vende a marca Hyundai no Brasil, retomasse pagamentos pelo contrato para que o esquema conseguisse a edição de medidas provisórias que prorrogassem incentivos fiscais que a beneficiaram.
Cristina confirmou no depoimento que houve "calote" da CAOA e revelou dificuldades para a cobrança uma vez que o contrato foi apenas apalavrado.
"Em algum momento ele (Mauro) falou que a CAOA deu calote nele. Não sei o motivo do calote. Não sei o valor do contrato. Ele falava que não iria cobrar porque não assinou contrato, era um acordo verbal. Provavelmente cobrou. Se teve esse acordo ele de ter ido lá reclamar com alguém né", disse.
A PF também suspeita que a LFT Marketing Esportivo, do empresário Luís Claudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, pode ter recebido R$ 4 milhões e não apenas os R$ 2,5 milhões já identificados. Na busca e apreensão foi encontrada minuta de contrato similar aos demais assinados entre a firma e a Mautoni, porém sem o cabeçalho.
Cristina disse não acreditar que o marido tenha feito algo ilícito.
"Eu não acredito que ele tenha feito qualquer coisa errada. Ele tinha notas fiscais. Ele não ia fazer essa burrice no fim da vida. (Teve) dez mandatos de vice-presidente na Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). Só se fosse louco".