'Ecumênico', tucano João Doria já doou até ao PT

Empresário e pré-candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo fez doações eleitorais para arquirrivais dos tucanos. Doria afirma que sempre manteve relação republicana com outros partidos

Candidato do governador Geraldo Alckmin nas prévias do PSDB que definirão o nome da legenda na disputa pela Prefeitura da capital, o empresário João Doria Junior é filiado ao PSDB desde o ano 2000, mas pouca gente sabia disso até junho do ano passado.

Como presidente do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), organização que conta com cerca de 1.700 empresas filiadas, João Doria sempre zelou pelo ecumenismo partidário nos 182 eventos que promove anualmente.

O modelo de negócio que João Doria trouxe ao Brasil no começo de 2000 e que o deixou rico, o chamado "networking" não combina com engajamento.
Embora não goste do rótulo, o Lide prosperou ao reunir e aproximar CEOs, governadores, ministros, parlamentares e jornalistas em eventos sofisticados e reservados.

O principal deles, o Fórum de Comandatuba, realizado em uma paradisíaca ilha na Bahia, sempre foi frequentado por políticos que vão do PC do B ao DEM, passando, é claro, por PSDB e PT. Entre as figuras carimbadas dos encontros estão os ministros José Eduardo Cardozo (PT), da Justiça, Jaques Wagner (PT), da Casa Civil, e o vice-presidente da República Michel Temer (PMDB).

Em períodos eleitorais, Doria costuma fazer doações para candidatos que são arquirrivais dos tucanos. Entre eles estão Orlando Silva (PC do B-SP), vice-líder do governo na Câmara dos Deputados, a deputada estadual gaúcha Manuela D’Ávila (PC do B) e Paulo Skaf (PMDB), presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "O Lide tem uma relação republicana com os políticos, tanto que o presidente do Conselho de Administração é o ex-ministro do Lula Luiz Furlan. Também doei para candidatos do PT. Nunca discriminei", diz Doria.

Quando sua falta de familiaridade com o PSDB é lembrada por apoiadores de seus adversários nas prévias - o vereador Andrea Matarazzo e o deputado Ricardo Tripoli - Doria lembra que fez campanha para o tucano Franco Montoro para o Senado em 1978 e que, em 1982, foi um dos coordenadores de sua campanha ao governo de São Paulo. "Nunca escondi minha filiação ao PSDB.
Isso não tira nem aumenta a respeitabilidade. Onde está escrito que precisa de ter vida partidária para ser filiado?", afirma o empresário.

Polarização

Quando João Doria comunicou a Geraldo Alckmin, em junho do ano passado, que estava interessado em disputar as prévias do PSDB a resposta do governador de São Paulo foi curta e objetiva: "Viabilize-se e siga em frente".

Em deferência ao antigo amigo e aliado (os dois se conhecem há 35 anos), Alckmin orientou um pequeno grupo de correligionários com trânsito na máquina partidária a promover uma "imersão" com o agora pré-candidato do partido.

Foi então que João Doria foi apresentado ao mapa dos 58 diretórios zonais do PSDB na capital, suas principais lideranças e às áreas de influência dos "caciques" detentores de cargos eletivos ou de confiança na imensa máquina que o partido construiu nos 20 anos em que governa o Estado.

No entorno do governador e no partido, o gesto foi considerado apenas um agrado ao amigo que sempre lhe abriu as portas do empresariado paulista. Naquele momento, nem mesmo amigos e funcionários de Doria levaram a candidatura a sério. Mas o empresário levou e investiu pesado no projeto.

O crescimento vertiginoso de sua pré-candidatura, que conta com uma estrutura que lembra as primárias norte-americanas, provocou um terremoto no PSDB.

Até então considerado favorito, Andrea Matarazzo - que é apoiado por nomes como Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Aloysio Nunes Ferreira e Alberto Goldman - foi o primeiro a concluir que as digitais de Alckmin estavam por trás das adesões de peso que começaram a ser contabilizadas no time de Doria.

Secretários de Estado, militantes de base, vereadores, dirigentes de estatais, deputados e integrantes da direção partidária mergulharam de cabeça no projeto. Embora o próprio governador procurasse manter distância do processo, foi ficando cada vez mais claro que o partido estava diante de um racha.

Em meados de janeiro, um terceiro concorrente, Ricardo Tripoli, se inscreveu na disputa. Ao concluir que o cenário estava consolidado, Geraldo Alckmin finalmente entrou em cena.

O governador considerou que a candidatura de Matarazzo, que foi construída à sua revelia, não está afinada com seu projeto de disputar o Palácio do Planalto em 2018. Foi então que, na semana passada, o governador decidiu posar em uma foto ao lado Doria em um posto de gasolina fazendo o sinal de sua campanha com os dedos.

"O governador tem o mesmo direito de outros militantes de se posicionar, como fizeram o ex-presidente (FHC) e dois ex- governadores (Goldman e Serra)", diz o deputado Silvio Torres, secretário-geral do PSDB. (Colaborou Ricardo Chapola)
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