O deputado Leonardo Picciani (E) é cumprimentado por Eduardo Cunha depois de vencer a disputa pela liderança do PMDB na Câmara - Foto: (FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIABRASILNo dia em que foram confirmados 508 casos de microcefalia, 27 mortes pela doença e outros 5.280 sob investigação, o Brasil ficou sem ministro da Saúde. Para assegurar a reeleição do deputado federal Leonardo Picciani (RJ) na liderança da bancada do PMDB na Câmara, Marcelo Castro se licenciou do cargo e assumiu a cadeira no Legislativo. A estratégia surtiu efeito: o Palácio do Planalto saiu vitorioso ao reeleger Picciani em detrimento de Hugo Motta (PB) por 37 votos a 30, e dois em branco. Por mais 12 meses, o governo terá um aliado no comando do bloco – que será fundamental no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e na tramitação de projetos de interesse do Executivo.
A estratégia do governo em plena crise envolvendo o Aedes aegypti e o placar apertado mostram uma divisão interna da bancada do PMDB, com uma ala pró-Dilma e outra favorável ao afastamento da petista. Os desafetos são liderados pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PT), que autorizou a abertura do processo de impeachment. Ao ser reconduzido ao cargo, Picciani ressaltou a importância da união do partido: “A vitória é de toda a bancada do PMDB, que caminhará junta”.
Ao chegar ao plenário Marcelo Castro foi recebido por um protesto com papéis estampados com o mosquito. O ato foi organizado pelo Solidariedade, partido aliado de Eduardo Cunha e presidido por Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força. Alguns manifestantes usavam máscaras e fantasias do Aedes aegypti e levavam na mão raquetes de mata-mosquito.
Para ajudar na reeleição de Picciani, os deputados Marco Antônio Cabral e Pedro Paulo deixaram cargos de secretários do governo do Rio de Janeiro e reassumiram o mandato.
A votação foi secreta. O interesse do governo em vencer a disputa tem motivo: caberá aos líderes de cada bancada indicar os integrantes da comissão especial que analisará o impeachment. O grupo terá 65 representantes, de acordo com o tamanho da bancada. Por ser a maior da Casa, ao PMDB caberá oito cadeiras. A reeleição de Picciani mostra ainda que Cunha está perdendo influência sobre seu partido. Nos últimos dois anos – o primeiro como líder do PMDB e o segundo no comando da Câmara – ele impôs importantes derrotas do governo na votação de projetos de seu interesse. Mas vem perdendo força diante do agravamento das denúncias contra ele na Operação Lava-Jato. Picciani tinha uma postura mais crítica em relação a Dilma e inclusive anunciou ter votado no senador Aécio Neves (PSDB) nas eleições de 2014, mas no ano passado se aproximou do governo ao indicar dois ministros.
Ao apresentar nomes menos críticos a Dilma, Picciani causou descontentamento em parte do PMDB. A ala rebelde montou uma segunda chapa com a participação da oposição e venceu em plenário. No entanto, a polêmica foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou a votação. Na ocasião, Picciani chegou a ser destituído do posto por oito dias, em uma articulação encabeçada por Temer e Cunha. No lugar, assumiu o mineiro Leonardo Quintão. Mas com o apoio da maioria, foi reconduzido e reeleito ontem.
Antes da votação de ontem, Cunha questionou a legitimidade de Newton Cardoso Junior, vice-líder do partido, para conduzir a votação.
Newton é aliado de Picciani e tem voto declarado no deputado. Segundo participantes da sessão, Cunha foi contraditado pelo ministro Marcelo Castro. “Não vejo problema, presidente. Quando da sua reeleição para a liderança, eu era seu vice-líder e conduzi o processo”, respondeu Castro. Houve sorteio para ver qual dos inscritos falaria primeiro. O deputado Hugo Motta, adversário de Picciani, foi o primeiro a falar. Ele lamentou a divisão da bancada e elogiou o presidente da Câmara. Disse que Picciani, após um ano na liderança, não conseguiu apoio de dois terços da bancada e que não soube entender as diferenças entre os seus pares. (Com agências)
Conselho recorre ao STFO presidente do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, José Carlos Araújo (PSD-BA), anunciou que entrará com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir o funcionamento de forma autônoma e independente do grupo no processo disciplinar contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O recurso deve ser impetrado hoje.
Araújo reclamou que decisões da Mesa Diretora, mais especificamente do vice-presidente Waldir Maranhão (PP-MA), em favor do peemedebista, interferiram no andamento do processo por quebra de decoro parlamentar. O presidente do conselho disse que o objetivo é “prevenir arbitrariedades”. O conselho concedeu vistas e adiou mais uma vez a apreciação do parecer contra Cunha. Ontem, o ministro do STF Luís Roberto Barroso negou pedido de Cunha para suspender seu processo de cassação no conselho. Cunha havia recorrido pela concessão de uma medida liminar (provisória) para interromper a tramitação do processo até que fosse apreciado, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, um recurso que levaria o caso à fase inicial. .