O senador Delcídio Amaral (PT-SP) chorou muito nesta sexta-feira ao saber que o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki havia revogado sua prisão. Ex-líder do governo Dilma no Senado, Delcídio ficou detido durante 86 dias, sob acusação de atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.
Da rotina frenética de um homem que participou das principais negociações políticas do governo e tinha livre acesso ao gabinete presidencial, Delcídio foi abandonado até mesmo por seu partido, o PT, que deve expulsá-lo em breve. Na prisão, ele leu a Bíblia e vários livros, como A Origem do Estado Islâmico, de Patrick Cockburn, e a autobiografia de Ron Wood, guitarrista da banda de rock Rolling Stones.
Delcídio passou o aniversário dele - de 61 anos, completados no último dia 8 -, o da mulher, Maika, e o de duas filhas, além do Natal e do Ano Novo, recluso na Superintendência da Polícia Federal e no Batalhão de Policiamento de Trânsito.
O advogado Luiz Henrique Machado, um dos defensores do senador, garantiu que ele não fará delação premiada. "Isso está totalmente fora de cogitação. Nem passa pela cabeça dele", disse Machado.
O inferno de Delcídio começou depois que o filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró gravou uma conversa na qual o senador prometia procurar ministros do Supremo para libertar o antigo amigo. Na gravação, Delcídio chegou a sugerir um plano de fuga para Cerveró e uma mesada de R$ 50 mil mensais para a família, o que foi interpretado como uma tentativa de negociar o silêncio do ex-diretor da Petrobras.
Agora, o ex-líder do governo no Senado poderá voltar a exercer o mandato parlamentar, mas responde a processo penal, além de uma ação movida pelos partidos Rede e PPS no Conselho de Ética, com o objetivo de cassar o seu mandato. Isso sem contar o processo disciplinar no PT.
"Ele vai se defender pessoalmente no Conselho de Ética", afirmou o assessor Eduardo Marzagão. "O senador terá de se recolher todos os dias à noite e não poderá sair do País.
No início deste mês, a defesa de Delcídio entrou com recurso no Supremo pedindo a revogação da prisão do senador, alegando que, naquelas condições, o julgamento político do Conselho de Ética ficava prejudicado. "(...) Deve-se, no mínimo, impedir que o senador seja julgado perante o Senado Federal de forma constrangedora, completamente estereotipada, com prejuízo inevitável ao direito de defesa e à imparcialidade", afirmaram os advogados na manifestação..