Brasília – Informados de que o senador Delcídio do Amaral (suspenso pelo PT) pretende retomar as atividades parlamentares amanhã, lideranças do PT no Senado vão pressioná-lo para que ele deixe o comando da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) da Casa. O colegiado é responsável pelos principais temas de interesse do governo em questões econômicas.
Segundo relatos, Delcídio informou ao secretário-geral do Senado, Luiz Fernando Bandeira, que pretende voltar às atividades na comissão já na sessão prevista para terça-feira. Durante o período em que ficou preso, as atividades na comissão foram comandadas pelo vice-presidente Raimundo Lira (PMDB-PB). A conversa entre o petista e o secretário-geral do Senado teria ocorrido poucas horas depois de o petista ter sido solto na noite de sexta-feira.
Na avaliação de integrantes da bancada do PT, Delcídio não tem mais condições políticas de conduzir a comissão e sua permanência na presidência é considerada como constrangimento tanto para o partido quanto para os correligionários na Casa. Dias antes de o senador ser solto, o líder da legenda, senador Humberto Costa (PE), com apoio de parte da bancada, já havia apresentado um requerimento na comissão para substituir Delcídio pela senadora Gleisi Hoffmann (PR). Para evitar desgaste, Humberto Costa deve procurar Delcídio em busca de um acordo.
O ex-líder do governo de Dilma Rouseff (PT) deixou o Quartel do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar do Distrito Federal após decisão nesta sexta-feira do ministro do STF Teori Zavascki, que considerou que sua prisão preventiva não era mais necessária. Ele se prepara para tentar influir na decisão dos pares no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, que analisa na quarta-feira processo pedindo sua cassação. A defesa do senador foi apresentada na quinta-feira e, com a volta do petista ao Senado, ele pretende fazer sua própria sustentação oral.
A volta de Delcídio causa constrangimento não só para os petistas, mas os colegas senadores não falam em tratá-lo com hostilidade. Durante os 86 dias em que esteve preso provisoriamente, o senador continuou sendo remunerado pelo Senado Federal com um salário de R$ 33.763,00. Também contou com auxílio-moradia de R$ 5.500,00 que usava para morar em um luxuoso flat de Brasília.
Delcídio foi preso por causa de um vídeo feito por Bernarndo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Nele, o petista oferecia dinheiro à família para que o antigo dirigente da estatal não aceitasse um acordo de delação premiada na Lava-Jato ou, caso resolvesse colaborar, não citasse seu nome. O senador também ofereceu uma rota de fuga para Cerveró pelo Paraguai, caso ele conseguisse um habeas corpus.
Por orientação de seus advogados, o senador deve manter distância dos demais investigados pelo esquema de corrupção na Petrobras. Na decisão que libertou o senador, o ministro Teori Zavaski determinou que, enquanto ele estiver no exercício do mandato, terá de se submeter ao recolhimento domiciliar noturno e nos dias de folga. Se por acaso ele for licenciado ou afastado do cargo, terá de ficar preso em casa em tempo integral.