Segundo os investigadores, a empresa 'blinda' Miggliácio, inclusive custeando suas despesas no exterior para mantê-lo à distância das autoridades. A Procuradoria da República chegou a pedir novo decreto de prisão de Odebrecht, mas o juiz federal Sérgio Moro não acolheu a solicitação.
A planilha com dados de campanhas eleitorais que está de posse da Lava-Jato foi criada por Maria Lúcia Guimarães Tavares, segundo os investigadores. Ela foi presa nesta segunda-feira, 22, na Operação Acarajé, a 23.ª etapa da Lava-Jato. "Era a pessoa responsável pelo controle das entregas dos 'acarajés', como os investigados chamavam os valores repassados", informou a Polícia Federal.
A PF afirma que o alvo da Acarajé não são crimes eleitorais, mas sim corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa relativos a desvios na Petrobras. As informações da planilha trazem detalhes de despesas eleitorais de 2008 a 2012.
A Operação Acarajé destaca que Maria Lúcia é funcionária de executivos da Odebrecht - Fernando Miggliácio, Hilberto Mascarenhas e Luiz Eduardo Rocha Soares, controladores de contas no exterior, do grupo.
O delegado da PF Filipe Hille Pace destacou que João Santana recebeu pelas campanhas eleitorais de 2008 e 2012 (municipais) e de 2010 e 2014 (presidenciais) mais de R$ 150 milhões. Segundo o delegado esses pagamentos são legais, foram declarados à Justiça eleitoral.
"Ele (João Santana) recebeu no Brasil valores de campanhas de 2010, presidencial, e 2014, campanha presidencial, e 2012, atual prefeito de São Paulo (Fernando Haddad) e a campanha municipal de 2008. Valores declarados que recebeu legalmente no Brasil.
O delegado disse que a Operação Acarajé quer saber o motivo de o marqueteiro ter recebido esse dinheiro fora do Brasil. Pelo menos US$ 3 milhões já foram identificados em contas nos Estados Unidos e na Inglaterra, em nome da offshore Shellbill Finance SA.
A Lava-Jato tem elementos para acreditar que essa offshore era usada por Santana e sua mulher e sócia, Mônica Moura, de forma não declarada, para recebimentos no exterior. Outros US$ 4,5 milhões foram repassados para essas contas entre 2013 e 2014, pelo operador de propinas Zwi Skornicki, preso nesta segunda-feira. Ele é ligado ao estaleiro Keppel Fels, contratado da Petrobrás.
Procurada, a Odebrecht confirmou operação da Polícia Federal em escritórios de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, para o cumprimento de mandados de busca e apreensão e disse estar à disposição das autoridades para colaborar com a operação em andamento..