O juiz federal Sérgio Moro decretou a prisão temporária por cinco dias do vice-presidente da Odebrecht Engenharia e Construção no Brasil, Benedicto Barbosa da Silva Júnior (Infraestrutura), o 'BJ', no âmbito da Operação Acarajé, 23ª etapa da Lava-Jato deflagrada nesta segunda-feira, em São Paulo, Rio e Bahia.
"No curso das investigações relacionadas ao Grupo Odebrecht foi possível identificar outros executivos que se encontravam proximamente vinculados ao presidente Marcelo Bahia Odebrecht, e sob os quais pairam indícios de que tenham ativamente participado da organização criminosa formada no âmbito daquele conglomerado empresarial para a prática de ilícitos penais", destaca relatório da PF. "Um deles é Benedicto Barbosa da Silva Junior, presidente da Odebrecht Infraestrutura."
Segundo a PF, a partir da análise de diálogos mantidos entre 'BJ' e Odebrecht, identificados nos aparelhos Blackberry apreendidos na residência do empreiteiro, "é possível verificar que Benedicto é pessoa acionada por Marcelo para tratar de assuntos referentes ao meio político, inclusive a obtenção de apoio financeiro".
Na decisão em que mandou prender o vice da Odebrecht, o juiz assinala que o executivo participou de reuniões com Odebrecht e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu - preso desde 3 de agosto de 2015.
"Em vista da planilha e revendo as anotações constantes no celular de Marcelo Bahia Odebrecht, a autoridade policial identificou reuniões havidas em outubro de 2010 e abril de 2011, entre ele e José Dirceu de Oliveira e Silva, juntamente com pessoa identificada como 'FR', sigla correspondente a outro executivo da Odebrecht, Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis", anotou o juiz da Lava-Jato.
Na representação pela prisão do executivo, a PF destacou trocas de mensagens, durante o ano de 2014, de 'BJ' com Odebrecht. "Embora as mensagens ainda precisem ser completamente elucidadas há indícios da prática conjunta de ilícitos", assinala Sérgio Moro. "Há menção à 'conta Pós Itália', o que pode ser uma referência a pagamentos posteriores àqueles constantes na planilha acima referida (de título 'Posição Programa Especial Italiano')."
O juiz da Lava-Jato ressalta que em outra troca de mensagens "há referência a aparente pagamento de valores (cem mil reais) a autoridade com foro privilegiado em condições subreptícias". "Foi colhida prova relevante no sentido de que os crimes investigados envolvem uma série de fraudes documentais."
A PF assinala que os rumos da Operação Lava-Jato foram discutidos por 'BJ' e Odebrecht. "É pauta das conversas entre Marcelo e Benedicto, momento em que abordam o 'alinhamento' de empresas reconhecidamente vinculadas ao sistema de cartelização."
"Marcelo Bahia Odebrecht é o verdadeiro gestor de tais 'créditos'. Benedicto Junior, por sua vez, desempenha posição igualmente relevante na administração da conta sub-reptícia. Basta lembrar que na planilha 'Posição-italiano 31072012MO.xls', a sigla 'BJ' é a que apresenta as maiores cifras, sendo permitida a conclusão de que a maior parte de recursos espúrios eram originados da área dentro da Odebrecht controlada por Benedicto Junior."
Para a PF, "são suficientes as provas indiciárias colhidas em esfera policial a justificarem a decretação de medidas cautelares em face de Benedicto Barbosa da Silva Junior".
Procurada, a Odebrecht confirmou a operação da Polícia Federal em escritórios de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, para o cumprimento de mandados de busca e apreensão e disse estar à disposição das autoridades para colaborar com a operação em andamento.